quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Guerra Cristera - Soldados de Cristo

Guerra Cristera - Soldados de Cristo

Conflito que ocorreu no México entre camponeses e o governo anticlerical de Plutarco Elías Calles, entre 1926 e 1929.







Viva Cristo Rei!




Nossa Senhora de Guadalupe



Homenagem aos Cristeros



El martes me fusilan

El martes me fusilan
A las 6 de la mañana.
Por creer en Dios eterno
Y en la gran Guadalupana.
 
Me encontraron una estampa
De Jesús en el sombrero.
Por eso me sentenciaron
Porque yo soy un cristero.
 
Es por eso me fusilan
El martes por la mañana.
Matarán mi cuerpo inútil
Pero nunca, nunca mi alma.
 
Yo les digo a mis verdugos
Que quiero me crucifiquen
Y una vez crucificado
Entonces usen sus rifles.
 
Adiós sierras de Jalisco,
Michoacán y Guanajuato.
Donde combatí al Gobierno
Que siempre salió corriendo.
 
Me agarraron, de rodillas,
Adorando a Jesucristo.
Sabían que no había defensa
En ese santo recinto.
 
Soy labriego por herencia,
Jalisciense de naciencia.
No tengo más Dios que Cristo
Por que me dio la existencia.
 
Con matarme no se acaba
La creencia en Dios eterno.
Muchos quedan en la lucha
Y otros que vienen naciendo.
 
Es por eso me fusilan
El martes por la mañana.
 
Peloton, prepareeen, apunteeen
Viva Cristo Rey y fuego.





quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A Igreja, o tráfico e a escravidão

A IGREJA, O TRÁFICO E A ESCRAVIDÃO

Por Rafael Diehl

Publicado em 13/08/2007


Proponho-me aqui a tratar da visão da Igreja Católica acerca da escravidão, bem como o papel desta nesse processo. Para isso, introduzirei o texto tratando da questão escravista nos pensamentos que influenciaram a ideologia cristã: a teologia hebraica antiga e a filosofia clássica greco-romana.


1. A escravidão no pensamento greco-romano e no pensamento hebraico.

Para a mentalidade greco-romana, a escravidão era considerada lícita, concedendo ao senhor amplo domínio sobre seus escravos, inclusive o direito de vida e morte sobre os mesmos. Havia duas justificativas principais:


Aristóteles considerava que a escravidão era determinada fisicamente, ou seja, ele cria que alguns seres humanos nasciam com condições físicas propícias ao ofício escravo: com muita força física e pouca inteligência. Para tanto, cria-se que os homens eram desiguais quanto à natureza e aos acidentes.


Já a filosofia estóica pregava uma explicação metafísica: a do Destino. Para eles, alguns indivíduos nasciam destinados à escravidão e não poderiam alterar sua sorte [1]. Por outro lado, os hebreus consideravam lícito escravizar estrangeiros, mas não outros hebreus. Isso porque os gentios eram considerados acidentalmente, não naturalmente, inferiores ao “povo escolhido” da Revelação Divina [2]. A escravidão de hebreus eram permitidas apenas temporariamente [3].

2. A doutrina Cristã sobre a escravidão.

A doutrina cristã, de modo geral, era contrária à escravidão e ao comércio de escravos. Já nos primórdios do Cristianismo, São Paulo Apóstolo (séc. I d.C.) ensinava a igualdade de natureza entre os homens, judeus e gentios (não-judeus), visto que a Nova Aliança possuía um caráter universalista. Entretanto, não tendo grande influência na sociedade romana imperial, a Igreja recomendava aos escravos serem obedientes e não se revoltarem contra os seus senhores, mas também admoestava os senhores ao bom trato com seus escravos.


A escravidão, era também vista como uma conseqüência acidental do pecado, tal como expõe Santo Agostinho de Hipona (século IV-Vd.C.) que dizia ser todo homem escravo de seus pecados, e que alguns também eram castigados tornando-se escravos de senhores temporais [4]. Mas também considera que os escravos devem aceitar sua condição como punição pelos seus vícios, bem como serem obedientes e amarem seus senhores para não darem razão aos maus-tratos por eles provocados [5]. Pensa, contudo, que a condição escrava era temporária e chegaria um tempo na qual não seria mais necessário o escravismo [6].

Durante a Antiguidade Tardia (séculos IV-VII), apesar de ainda existir (inclusive fundamentada no direito da época) no Oriente, o escravismo foi, aos poucos sendo substituído pelo sistema do colonato, que por volta do ano 1000 gerou o feudalismo. No senhorio feudal, alguns camponeses estavam submetidos ao regime de servidão, que difere-se da escravidão propriamente dita, já que o servo medieval recebia um pequeno lote de terra para cultivar e possuía um vínculo semi-voluntário com seu senhor [7]. Possuindo um ligação de dependência com sua terra, o servo não poderia ser vendido separado de sua terra.


Voltemos, pois as medidas da Igreja. Em 873, o papa João VIII em uma carta a um príncipe da Sardenha diz: “Há uma coisa a respeito da qual desejamos admoestar-vos em tom paterno; se não vos emendardes, cometereis grande pecado, e, em vez do lucro que esperais, vereis multiplicadas as vossas desgraças. Com efeito, por instituição dos gregos, muitos homens feitos cativos pelos pagãos são vendidos nas vossas terras e comprados por vossos cidadãos que os mantêm em servidão. Ora consta ser piedoso e santo, como convém a cristãos, que, uma vez comprados, esses escravos sejam postos em liberdade por amor a Cristo, a quem assim proceda, a recompensa será dada não pelos homens, mas pelo mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isto exortamo-vos e com paterno amor vos mandamos que compreis dos pagãos alguns cativos e os deixeis partir para o bem de vossas almas.”[8]

De igual forma, as condenações serão reafirmadas pelo papa Pio II em 1462. Em uma época que o tráfico escravo estava ressurgindo na Europa, principalmente devido às conquistas portuguesas [9] , Pio II afirma que o tráfico escravo é magnum scelus, um “grande crime” [10]. Outras censuras ao escravismo e ao tráfico serão reforçadas pelos papas como Urbano VIII (1639) e Bento XIV (1741), sendo que o último prescreveu excomunhão para os senhores que maltratassem seus escravos [11]. Gregório XVI, em 1839 dirá em uma epístola que: “Admoestamos os fiéis para que se abstenham do desumano tráfico dos negros ou de quaisquer outros homens que sejam.”Também o papa Leão XIII, no século XIX apoiará as tendências abolicionistas no Brasil, que obtiveram êxito com a lei Áurea em 1888.

3. Igreja e escravidão no Brasil.

Para tratar acerca das relações entre a Igreja Católica e o Brasil utilizarei de três fontes principais: A obra Economia Cristã dos Senhores no Governo dos Escravos (fins do século XVII) do padre jesuíta Jorge Benci, os Sermões do Padre jesuíta Antônio Vieira (século XVII) e As Constituiçoens primeyras do Arcebispado da Bahia (1707).


Importante recordar que a Igreja no Brasil, estava submetida ao padroado e ao beneplácito da Coroa Portuguesa, o que reduzia em parte sua autonomia na região, pois a mesma ficava sujeita ao poder régio lusitano. Não tendo poder suficiente para aplicar as determinações papais que sugeriam o fim do tráfico e da escravidão, limitam-se a exortar os senhores no bom trato aos escravos e estabelecer sanções canônicas contra os abusos [12].


Nos sermões do Padre Vieira podemos observar a reprovação ao tráfico e à escravidão. No Sermão XIV, por exemplo, reafirma a igualdade natural dentre os homens [13]. No mesmo Sermão diz que os negros não são inferiores, mesmo tendo sito gentios e cativos [14]. Sobre o tráfico escravo considera no Sermão XXVII que: "Nas outras terras, do que aram os homens e do que fiam e tecem mulheres se fazem os comércios: naquela (na África) o que geram os pais e o que criam a seus peitos as mães, é o que se vende e compra. Oh! trato desumano, em que a mercancia são homens! Oh! mercancia diabólica, em que os interesses se tiram das almas alheias e os ricos são das próprias'' [15]. Para Vieira, a escravidão além de ilícita atrai pragas e desastres para o Brasil, conforme conclui no Sermão XVII [16].


Em fins do século XVII, o padre Jorge Benci escreve a sua Economia Cristã dos Senhores no governo dos escravos, onde procura formular quais os deveres dos senhores para com os servos a partir das palavras do capítulo XXXIII do Eclesiático: panis, disciplina et opus servo – pão, disciplina e trabalho para o servo. Nesta obra, Benci defende que os senhores devem fornecer aos escravos o sutento material (comida e vestuário) e espiritual (catequese e o não impedimento do usufruto dos Sacramentos); a disciplina (ensinando-os e castigando-os, sem, contudo cometer excessos); o trabalho condizente com as condições e capacidades físicas do escravo. (para que não fiquem ociosos, que segundo o autor seria ocasião para pecados) e o descanso durante as noites, Domingos e dias santos.

Embora lembre que nos primeiros tempos do cristianismo era comum os recém-convertidos alforriarem seus escravos, o autor considerando que tal coisa era difícil de ser conseguida da parte dos senhores de seu tempo insiste no bom tratamento que os senhores devem aos escravos, pois para ele é tirano o senhor que não se compadece dos sofrimentos de seus servos [17].


Passemos, pois às Constituições primeiras do Arcebispado da Bahia, de 1707. Estas constituições forma promulgadas pelo Primeiro Sínodo Diocesano do Brasil, em Salvador. Suas determinações estiveram em vigor durante os séculos XVIII e XIX.

Estas Constituições dedicaram vinte e três tópicos à questão dos escravos, sendo que as principais determinações foram: exortar aos senhores no bom trato dos escravos fornecendo-lhes sustento necessário em alimentos e vestuários, bem como o descanso nos Domingos e dias santos. Também regulamentou a catequese ministrada aos escravos, bem como proibiu os batismos forçados [18]. Além disso, o Sínodo defendeu o direito dos escravos ao usufruto do Sacramento do Matrimônio, mesmo contra a vontade dos senhores, conforme permitia o Direito Canônico [19]. Outra determinação foi a obrigação dada ao senhores de concederem aos seus falecidos escravos Missas de corpo-presente e sétimo dia de falecimento, bem como uma sepultura cristã [20]. Como pode-se ver, as determinações deste Sínodo episcopal foram fortemente influenciadas pela obra de Jorge Benci [21].

Por fim, destaco a ação das Irmandades, Confrarias e Ordens Religiosas no Brasil. Muitas destas além de congregar brancos e negros empenhavam-se na arrecadação de dinheiro para comprar alforrias de alguns escravos. Haviam também confrarias específicas para os negros, não só no brasil, mas também em várias partes da África, como a Venerável Ordem Terceira do Rosário das Portas do Carmo [22]. A Igreja já possuía desde a Idade Média duas ordens destinadas a evangelizar os escravos: a Ordem dos Trinitários de 1198 e a Ordem dos Mercedários de 1222. Tais ordens destinavam-se a evangelizar os cativos entre os sarracenos, e no Brasil trabalharam para alforriar alguns escravos [23].

Portanto, podemos perceber que a libertação dos escravos e o fim do tráfico escravo (pelo menos oficialmente) ocorrido no século XIX, não foi fruto apenas nos idéias iluministas surgidos no século XVIII, mas também foi influenciado pela Igreja Católica através de suas doutrinas e das ações de suas ordens religiosas nos territórios onde havia o escravismo. Mas a Igreja lidou com o problema da escravidão colonial da mesma forma com que o tinha lidado no período romano: não tendo como acabar com a escravidão, procura minimizar as relações entre senhores e escravos, sem contudo pregar a rebeldia, idéia comumente rejeitada pelo pensamento escolástico ainda forte na Igreja pós-Concílio de Trento.

______________

Notas
[1] Para maiores informações sobre escravidão no mundo antigo, vide BLACKBURN, Robin. A Construção do Escravismo no Novo Mundo do Barroco ao Moderno 1492 – 1800. Rio de Janeiro: Record, 2003. pp. 47-122.
[2] Levítico XXV, 44-46.
[3]Êxodo XXI, 2-7.
[4]“Esse nome [o de servo, escravo] mereceu-o, pois, a culpa, não a natureza. [...] Tornavam-se servos; palavra derivada de servir. Isso também é merecimento do pecado.” Santo Agostinho de Hipona. A Cidade de Deus. São Paulo: Vozes , 2001, parte II. p. 406. Para aprofundar esta questão vide A Cidade de Deus, parte II, Livro XIX, capítulos XV e XVI.
[5] “A causa primeira da servidão, é, pois, o pecado, que submete um homem a outro pelo vínculo da posição social. É o efeito do juízo de Deus, que é incapaz de injustiça e sabe impor penas segundo o merecimento dos delinqüentes. O Senhor supremo diz: Todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. Por isso muitos homens piedosos servem patrões iníquos, mas não livres, porque quem é vencido por outro fica escravo de quem o venceu.” Ibid. p. 406.

[6] “Por isso, o Apóstolo aconselha aos servos que estejam submissos aos respectivos senhores e os sirvam de coração e bom grado. Quer dizer, se os donos não lhes dão liberdade, tornem eles, de certa maneira, livre sua servidão, não servindo com temor falso, mas com amor fiel, até que passe a iniqüidade e se aniquilem o principado e o poder humano e Deus seja tudo em todas as coisas.” Ibid. p. 406.
[7] Utilizo a expressão semi-voluntário devido ao fato de que um camponês vinculava-se voluntariamente a um senhor de terras, mas estes contratos geralmente obrigavam os descendentes do dito camponês a vincularem-se ao senhor em servidão.
[8] Denzinger-Sch'ánmetzer. Enquirídio dos Símbolos e Definições nº 668 citado em: BETTENCOURT, Dom Estevão Tavares, OSB. O Tráfico Negro no Brasil e a Igreja. Artigo digitalizado, disponível em URL: http://www.presbiteros.com.br/Hist%F3ria%20da%20Igreja/Trafico.htm
Acesso em 09/05/2007, às 24 h e 34 min.
[9] A expansão portuguesa em direção a territórios muçulmanos teve para a Igreja um caráter cruzadístico e foi incentivada e legitimada pelo Papado através das bulas Romanus Pontifex (1455) de Nicolau V e Inter Caetera (1456) de Calixto III. Vide MARTINS, Manuel Gonçalves. O Estado Novo e a Igreja Católica em Portugal (1933-1974). p. 1. Versão digitalizada, disponível em URL: http://www.aps.pt/ivcong-actas/Acta191.PDF
Acesso em 09/05/2007, às 24 h e 46 min.
[10] BETTENCOURT, Dom Estevão Tavares, OSB. Op. Cit.
[11] Ibid.

[12] “Neste panorama, observamos que, no projeto colonizador e evangelizador, Igreja e Estado Português, andavam juntos, uma vez que estavam interligados pela instituição do Padroado Régio; o Rei era a maior autoridade da Igreja, no território português e em suas colônias, e tinha direitos e deveres religiosos que muitas vezes se confundiam.” CASIMIRO, Ana Palmira Bittencourt Santos. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia: Educação, Lei, Ordem e Justiça no Brasil Colonial. p.3. Versão digitalizada disponível em URL: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/artigos_frames/artigo_005.html
Acesso em 13/05/2007, às 21 h e 42 min.
[13] "Saibam os pretos, e não duvidem, que a mesma Mãe de Deus é Mãe sua porque num mesmo Espírito fomos batizados todos nós para sermos um mesmo corpo, ou sejamos judeus ou gentios, ou servos ou livres" (Sermão XIV, em Sermões, vol. IX Ed. das Américas 1958, p. 243). Citado em: BETTENCOURT, Dom Estevão Tavares, OSB. Op. Cit.
[14] Ibid.
[15] VIEIRA, Antônio, SJ. Sermão XXVII, em Sermões, vol. IX Ed. das Américas 1958, p. 64. Citado em: Ibid.
[16] Ibid.

[12] “Neste panorama, observamos que, no projeto colonizador e evangelizador, Igreja e Estado Português, andavam juntos, uma vez que estavam interligados pela instituição do Padroado Régio; o Rei era a maior autoridade da Igreja, no território português e em suas colônias, e tinha direitos e deveres religiosos que muitas vezes se confundiam.” CASIMIRO, Ana Palmira Bittencourt Santos. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia: Educação, Lei, Ordem e Justiça no Brasil Colonial. p.3. Versão digitalizada disponível em URL: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/artigos_frames/artigo_005.html
Acesso em 13/05/2007, às 21 h e 42 min.
[13] "Saibam os pretos, e não duvidem, que a mesma Mãe de Deus é Mãe sua porque num mesmo Espírito fomos batizados todos nós para sermos um mesmo corpo, ou sejamos judeus ou gentios, ou servos ou livres" (Sermão XIV, em Sermões, vol. IX Ed. das Américas 1958, p. 243). Citado em: BETTENCOURT, Dom Estevão Tavares, OSB. Op. Cit.
[14] Ibid.
[15] VIEIRA, Antônio, SJ. Sermão XXVII, em Sermões, vol. IX Ed. das Américas 1958, p. 64. Citado em: Ibid.
[16] Ibid.

Sobre a tortura

(b) Sobre a tortura


Fonte: http://aciesordinata.wordpress.com/2010/04/30/textos-essenciais-em-traducao-inedita-38/

A tortura. Aqui, temos três textos a reconciliar. O Papa Inocêncio IV, em 1252, e outros papas da Idade Média concederam aos inquisidores o direito de empregar a tortura. Contudo, em 1953, num discurso a um congresso de direito penal, Pio XII declarou que “A instrução judiciária deve excluir a tortura física e psíquica e a narco-análise, antes de tudo porque lesam um direito natural mesmo se o acusado é realmente culpado, e além disso porque com demasiada frequência dão resultados errôneos.”

Ainda que esse documento não tivesse grande valor magisterial, ocorre que – ainda bem! – o Papa invoca a célebre resposta do Papa Nicolau o Grande aos búlgaros, a qual tem estatuto bem sólido e repreende rispidamente os búlgaros, por, face a um acusado de roubo, “espancar-lhe a cabeça e furar-lhe os lados com pontas de ferro até que diga a verdade”. Esse tratamento, diz o Papa, “nem a lei divina nem a lei humana admitem”.

E agora, quem tem razão?

Convém abrir um livro sério de teologia moral e estudar um pouco o pensamento da Igreja sobre a tortura. Quem escolher Santo Afonso (Theologia Moralis, livro V, [art. III] nn. 202-5 – é o livro de teologia moral mais aprovado) aprenderá que a tortura é intrinsecamente ilícita salvo em certas condições extremamente limitadas:

1. A culpabilidade deve já ter sido estabelecida com certeza moral;

2. O sofrimento aplicado não deve ser insuportável a ponto de fazer até mesmo um inocente se acusar;

3. Numerosas categorias de pessoas estavam isentas de toda a tortura;

4. Toda a confissão assim obtida era inutilizável a menos que fosse livremente confirmada, sem tortura, no dia seguinte;

5. Se a tortura não obtivesse resultado, não se poderia recorrer a ela novamente.

Aí estão as condições de trabalho da Inquisição. Encontram-se expostas de modo similar no célebre Malleus Maleficarum. Ora, visivelmente, aquilo que Nicolau I condena não se assemelha a isso em nada. E a leitura do contexto das palavras de Pio XII confirma que tampouco ele falava de um tal uso da tortura. “Não é raro que elas cheguem exatamente às confissões almejadas e à condenação do acusado, não por ser ele culpado de fato, mas por sua energia física e psíquica estar esgotada…” A regra que Pio XII deseja ver imposta é a de Nicolau I. Ele não fala de maneira alguma de um emprego da tortura tão limitado e condicionado, a ponto de ela não ser contrária à lei moral, e no qual ninguém mais pensa.

Sem dúvida, se Pio XII tivesse querido pronunciar-se ex professo de maneira doutrinal, por exemplo numa encíclica, sobre a moralidade in se da tortura em todas as suas espécies, teria sido necessária uma definição explícita da tortura que caísse na condenação e uma precisão sobre a natureza exata do “direito natural” por ela lesado.

Esse direito natural, a meu parecer, só pode ser o de não ser privado pela força do domínio moral sobre seus atos, o qual é chamado de liberdade de coerção (“libertas a coactione”). E, presumindo que isso seja exato, constatamos que a tortura permitida à Santa Inquisição era precisamente circunscrita, de sorte a não lesar esse direito nem mesmo ter a aparência de o lesar.

Mas o objetivo de Pio XII não era o de acrescentar um tratado de tortura aos catecismos da fé, mas muito simplesmente dar alguns conselhos ou diretrizes para a implementação de um sistema uniforme de direito internacional (sancionado por tratado). Ele julga desejável que um tal sistema de direito condene a tortura. Esta, ele não a define, pois toda a sua audiência compreenderá bem a quais práticas recentes ou atuais, e de que país, ele faz alusão. Falar de uma exceção puramente histórica, sem atualidade, sem perigo de restabelecimento, pertencente a um contexto puramente eclesiástico, teria posto gratuitamente em perigo a eficácia prática dessa intervenção que se quer soberanamente prática.

Pois nenhum país do século XX quereria reivindicar para si o direito de torturar os acusados sob as condições que a Inquisição observava. E ninguém jamais conceberia ter confiança em quem quer que seja para respeitar um tal sistema fora do caso especial da Igreja, que confiou a sua Inquisição aos filhos de São Domingos.

A conduta da Igreja durante muitos séculos, bem como as intervenções dos Sumos Pontífices sobre o tema durante a época em questão, testemunham claramente a atitude da Igreja, que não pode se enganar em sua conduta nem em suas tolerâncias, assim como em seu ensinamento direto. É a contradição que é imaginária.

Eis aí, refutada, mais uma pretensa autocontradição da autoridade doutrinal estabelecida por Jesus Cristo. Magna est veritas et praevalebit.


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Patrono dos caçadores

Patrono dos caçadores

Paris, igreja de Saint Nicolas du Chardonnet, dia 21 de novembro: a missa em honra a Santo Huberto, patrono dos caçadores, preserva a tradição que remonta à Idade Média, em que caçadores traziam seus instrumentos e tocavam suas trompas de caça, então feitas de chifres de animais. (fratres in unum.com)


Reportage photos de la messe de la Saint Hubert
du 21 novembre 2010 à Saint-Nicolas-du-Chardonnet (Paris)

( http://www.laportelatine.org/district/prieure/stnicol/messe_StHubert101121/StHubert_101121.php )



L'ensemble musical de Trompes de Chasse " A l'Ombre des Abbayes Normandes"

Messe de la Saint Hubert en l'église Saint-Nicolas-du-Chardonnet à Paris le 21 novembre 2010


terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Música das Cruzadas - CD

CD - Música das Cruzadas

MÚSICA DAS CRUZADAS



Music of the Crusades - 1970
The Early Music Consort of London - David Munrow

O website saopiov.org está disponibilizando o CD Música das Cruzadas, trata-se de músicas medievais do séc. XI ao XIII.

Acesse: http://www.saopiov.org/2009/08/cd-musica-das-cruzadas.html

Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém



Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém

História

Fonte: http://www.santosepulcro-portugal.org/historia.html

As origens da Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém remontam à Primeira Cruzada, quando o seu líder, Godofredo de Bulhão, libertou Jerusalém.

Na reorganização que fez dos corpos religioso, militar e administrativo do território recém libertado do controlo Muçulmano, criou a Ordem dos Cónegos do Santo Sepulcro. Segundo os registos dos Cruzadas, em 1103 o primeiro rei de Jerusalém, Balduíno I, assumiu a chefia dessa ordem canónica e reservou, para si e para os seus sucessores (como agentes do Patriarca de Jerusalém), a prerrogativa e o direito de nomear os Cavaleiros para essa ordem, no caso de ausência ou impossibilidade do Patriarca.

A Ordem incluía não só membros regulares (Frates), mas também seculares (Confrates) e militares. Estes últimos eram armados cavaleiros de entre os cruzados pelo valor e dedicação demonstrados, fazendo votos de obediência à Regra Agostiniana de pobreza e obediência e assumindo, como especial obrigação, defender o Santo Sepulcro e os Lugares Santos, sob o comando do Rei de Jerusalém.

Pouco tempo depois da Primeira Cruzada, os cruzados - incluindo os Cavaleiros da Ordem dos Cónegos do Santo Sepulcro - começaram a regressar às suas terras natais. Este movimento levou à criação de priorados por toda a Europa, os quais faziam parte da Ordem e estavam sob a mesma jurisdição dos nobres cavaleiros ou prelados investidos no próprio Santo Sepulcro e que, apesar de terem deixado de estar ao serviço do Rei de Jerusalém, continuavam a pertencer à Ordem.

A Ordem começou a falhar como [um] corpo militar coeso de cavaleiros depois da reconquista de Jerusalém por Saladino, em 1182, deixando de existir como tal depois da derrota de S. João de Acre, em 1291. O fim do Reino Cristão de Jerusalém deixou a Ordem sem liderança, apesar de se manterem os vários priorados Europeus, graças à protecção de reis, príncipes, bispos e da Santa Sé. Estes priorados conservaram vivos os ideais dos Cavaleiros Cruzados: propagação da Fé, defesa dos fracos, caridade para com qualquer ser humano. Com excepção das intervenções em Espanha, só raramente os Cavaleiros do Santo Sepulcro tomaram parte em acções militares de defesa da Cristandade.

No século XIV, a Santa Sé teve que fazer um elevado pagamento ao Sultão do Egipto para que este permitisse que fossem os frades Franciscanos a proteger os Santuários Cristãos. Durante todo o período em que o Patriarcado Latino esteve vacante, o direito de criar novos Cavaleiros foi uma prerrogativa do representante da maior autoridade Católica na Terra Santa, o Custódio da Terra Santa.

Em 1847, o Patriarcado foi restaurado e o Papa Pio IX modernizou a Ordem, dando-lhe uma nova Constituição, pela qual colocava a Ordem sob protecção directa da Santa Sé e conferia o seu governo ao Patriarca Latino. O papel fundamental da Ordem ficou também definido: ajudar nas obras do Patriarcado Latino de Jerusalém, preservando a obrigação espiritual de propagar a Fé.

Em 1949, o Papa Pio XII decretou que o Grão Mestre da Ordem deveria ser um Cardeal da Santa Igreja de Roma, designando o Patriarca Latino de Jerusalém como Grão Prior. Em 1962, o Papa João XXIII e, em 1967, o Papa Paulo VI reorganizaram e revitalizaram a Ordem, acrescentando regulações específicas à sua Constituição, com a intenção de tornar as actividades da Ordem mais coordenadas e mais efectivas.

Em Fevereiro de 1996, o Sumo Pontífice João Paulo II aumentou o estatuto da Ordem. Hoje, é uma Associação Pública de fiéis com personalidade jurídica canónica e pública, constituída pela Santa Sé ao abrigo da Lei Canónica 312, parágrafo 1:1.

Acima das conotações históricas e da sua evolução ao longo dos tempos, os aspectos meritórios e interessantes da Ordem, actualmente, [hoje] assentam no papel que lhe foi atribuído, o qual prossegue na esfera da Igreja Católica, e pela sua estrutura administrativa e organização local em diversas comunidades.


http://www.santosepulcro-portugal.org/

terça-feira, 9 de novembro de 2010

As cavalhadas

As cavalhadas

Os desfiles de cavaleiros em festividades oficiais são muito .antigos, poiS já os romanos no início da era cristã tornaram-nos habituais, na celebração de seus ·triunfos militares e em suas festividades pagãs.

Na Idade Média, a aristocracia utilizava o cavalo em torneios ou combates coletivos e nas justas ou combates individuais, exibindo desse modo sua valentia e perícia. Tais atividades dos cavaleiros nobres faziam reviver, a seu modo, os torneios dos gladiadores de Roma, se bem que despojadas do espírito pagão e vivificadas pelo cavalheirismo cristão, que atingiu seu ápice na instituição da Cavalaria.

Esta, conforme tradições legendárias, surgiu com o Imperador Carlos Magno e seus Doze Pares de França, no século IX.

Em Portugal, a cavalaria teve início com o nascimento do próprio reino, e tomou-se um elemento sempre presente e de destaque nas festas religiosas, políticas ou guerreiras. Ela surgiu no Brasil-Colônia com as mesmas características portuguesas, no decorrer do século XVII.

Cavalhadas no Brasil

O povoamento de nosso País deu-se justamente quando a Mãe-Pátria ainda lamentava as inúmeras perdas que sofrera nas lutas contra os invasores mouros.

Aqui não havia somente o índio, o mameluco e o escravo a serem cristianizados. O próprio colonizador português e os nativos necessitavam de assistência religiosa. As circunstâncias em que se realizaram a colonização exigiram que eles se tornassem verdadeiros soldados da Religião.

As festas populares visavam atingir essa finalidade. E com o mesmo objetivo a Igreja promoveu as cavalhadas, luta entre cristãos e mouros, dramatizadas com grandes festejos e difundida entre os senhores das terras, os fazendeiros, que apresentavam os animais enfeitados, numa festa de sedas e veludos.

Atualmente, as cavalhadas que se rea­lizam no Brasil nem sempre se ajustam às regras da cavalaria clássica, e nem conservam o esplendor de outrora. Variam muito, dependendo das regiões, quanto ao estilo, número de participantes e trajes. Contudo, os tradicionais personagens cristãos e mouros nunca faltam, lutando entre si, assegurada invariavelmente a vitória final aos cristãos. Sua apresentação é comum durante as festas do Divino, em agradecimento a Deus pelos bons frutos das colheitas.

Nossas cavalhadas têm início com a vis ita dos participantes à igreja do local onde serão realizadas. Depois seguem estes em cortejo, acompanhados de uma banda de música, para a sua apresentação.

Representações preliminares

A cavalhada começa com o "jogo das argolas". E colocada uma argolinha enfeitada com fitas numa trave ou poste. Os cavaleiros devem retirar a argolinha com a ponta de uma lança, no momento em que o cavalo passar a galope embaixo do poste.

Em seguida vêm as escaramuças, que exigem muita habilidade por parte dos cavaleiros. Eles deverão espetar com suas lanças, durante veloz corrida a cavalo, máscaras que giram em um pino; projetam estas sobre o cavaleiro determinado peso, que poderá atingi-lo se ele não escapar a tempo.

Por fim, o ponto central das cavalhadas: a luta simulada entre dois partidos, o dos cristãos e o dos mouros - tema religioso, teatro de praça pública -, visando transmitir assim ao povo uma lição mediante a qual o Bem, representado pelos cristãos, vence o mal, figurado pelos mouros.

O Imperador Carlos Magno e seus Pares combatem os mouros, aparecendo na linguagem simples e poética do nosso povo como personagens célebres.

A vitória do Bem

Cada um dos dois grupos apresenta um rei, um embaixador e 10 cavaleiros, ricamente vestidos com veludos, rendas, arminhos e bordados, portando lança, espada e pistola. Cada figurante monta um cavalo todo engalanado para a ocasião. A

banda de música acompanha todo o espetáculo.

Os contendores - tomando de ponta a ponta posição na praça, com suas bandeiras e demais símbolos prestes para a disputa, partindo dos mouros a provocação inicial - avançam e a luta começa, renhida. O combate tem longa duração. Os cavaleiros mais adestrados são sempre escolhidos para integrarem o partido cristão, a fim de garantir a vitória do Bem. O cavaleiro atingido pela arma contrária trata logo de cair e se rende, evitando assim levar do adversário uma estocada mais séria.

Finalmente os cristãos triunfam e, senhores na luta, dirigem-se ao centro da praça, erguendo suas armas e lançando brados de vitória.

Rojões, fogos de artifícios em grande quantidade e acordes das bandas de música anunciam o epílogo das cavalhadas.

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BIBLIOGRAFIA

1. Brasil – Histórias, costumes e lendas, Editora Três, São Paulo, 1980.

2. Luis da Câmara Cascudo. Dicionário do Folclore Brasileiro, Editora Itatiaia, Belo Horizonte, 1988.

3. São Paulo - Festa e Canção, Spala Editora, Rio de Janeiro. 1982.

4. Luiz Edmundo, O Rio de Janeiro no tempo dos vice-reis, Athena Editora, Rio, 1960.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Um Olhar que Cura – Terapia das doenças espirituais

Um Olhar que Cura – Terapia das doenças espirituais



Aulas em MP3


Curso fundamental para nosso caminho espiritual





http://padrepauloricardo.org/category/cursos/espiritualidade/


# 1 - Introdução – Terapia das doenças espirituais
# 2 - Terapia das doenças espirituais - Filáucia
# 3 - As três doenças fundamentais
# 4 - Gastrimargia
# 5 - Terapia da Gastrimargia
# 6 - Luxúria
# 7 - Terapia da Luxúria
# 8 - Avareza
# 9 - Terapia da Avareza
# 10 - Tristeza
# 11 - Terapia da Tristeza
# 12 - Acídia
# 13 - Terapia da Acídia
# 14 - Ira
# 15 - Terapia da Ira
# 16 - Vanglória
# 17 - Orgulho
# 18 - Terapia da Vaidade e do Orgulho

domingo, 31 de outubro de 2010

Halloween e Cristianismo

Halloween e Cristianismo

Por Equipe da Revista Mundo Cristiano




O Halloween vem sendo cada vez mais promovido no embalo das vendas de produtos de diversão e entretenimento. Um exame das suas origens pode ajudar a compreender as suas relações e os seus contrastes com as celebrações cristãs que o seguem: a Festividade de Todos os Santos e o dia de Finados



É impressionante o poder que a publicidade tem de nos levar a comprar, a pensar e a viver de uma certa maneira. Quando nos damos conta, já estamos enredados num consumismo que não respeita idades, nacionalidades ou crenças religiosas, e que se vale de qualquer meio para atrair a nossa atenção e vender.

Um exemplo é o dia 31 de outubro, véspera do dia de Todos os Santos e antevéspera de Finados, em que se está generalizando o costume de festejar o Halloween. À medida que nos aproximamos desta data, vemos as lojas encherem se de máscaras e roupas de monstros, fantasias de bruxas, abóboras com feições macabras, filmes de terror e outros artigos que pouco têm a ver com as celebrações cristãs do início de novembro.

Alguns elementos de reflexão podem ajudar a valorizar a fé e a não nos deixarmos influenciar por um mercantilismo que pode chegar a prejudicar bastante a nossa clareza de idéias e os nossos costumes.


UM POUCO DE HISTÓRIA

A celebração do Halloween tem duas origens que no transcurso da História foram se misturando.


a. Origem Pagã

A origem pagã tem a ver com a celebração celta chamada Samhain, que tinha como objetivo dar culto aos mortos. A invasão das Ilhas Britânicas pelos Romanos (46 A.C.) acabou mesclando a cultura latina com a celta, sendo que esta última acabou minguando com o tempo. Em fins do século II, com a evangelização desses territórios, a religião dos Celtas, chamada druidismo, já tinha desaparecido na maioria das comunidades.

Pouco sabemos sobre a religião dos druidas, pois não se escreveu nada sobre ela: tudo era transmitido oralmente de geração para geração. Sabe se que as festividades do Samhain eram celebradas muito possivelmente entre os dias 5 e 7 de novembro (a meio caminho entre o equinócio de verão e o solstício de inverno). Eram precedidas por uma série de festejos que duravam uma semana, e davam início ao ano novo celta. A “festa dos mortos” era uma das suas datas mais importantes, pois celebrava o que para nós seriam “o céu e a terra” (conceitos que só chegaram com o cristianismo). Para os celtas, o lugar dos mortos era um lugar de felicidade perfeita, onde não haveria fome nem dor. A festa era celebrava com ritos presididos pelos sacerdotes druidas, que atuavam como “médiuns” entre as pessoas e os seus antepassados. Dizia-se também que os espíritos dos mortos voltavam nessa data para visitar seus antigos lares e guiar os seus familiares rumo ao outro mundo.


b. Origem Cristã

Desde o século IV a Igreja da Síria consagrava um dia para festejar “Todos os Mártires”. Três séculos mais tarde o Papa Bonifácio IV († 615) transformou um templo romano dedicado a todos os deuses (panteão) num templo cristão e o dedicou a “Todos os Santos”, a todos os que nos precederam na fé. A festa em honra de Todos os Santos, inicialmente era celebrada no dia 13 de maio, mas o Papa Gregório III († 741) mudou a data para 1º de novembro, que era o dia da dedicação da capela de Todos os Santos na Basílica de São Pedro, em Roma. Mais tarde, no ano de 840, o Papa Gregório IV ordenou que a festa de Todos os Santos fosse celebrada universalmente. Como festa grande, esta também ganhou a sua celebração vespertina ou vigília, que prepara a festa no dia anterior (31 de outubro). Na tradução para o inglês, essa vigília era chamada All Hallow’s Eve (Vigília de Todos os Santos), passando depois pelas formas All Hallowed Eve e “All Hallow Een”, até chegar à palavra atual “Halloween”.

Por outro lado, já desde o ano de 998, Santo Odilon, abade do mosteiro de Cluny, no sul da França, promovia a celebração do dia 2 de novembro, que seria uma data para rezar pelas almas dos fiéis que haviam falecido; por isso foi chamada de festa dos “Fiéis Defuntos” ou “Finados”. Esse costume difundiu se primeiramente por toda a França e, depois, por toda a Europa. Essas festas instituídas pela Igreja conseguiram eliminar boa parte do fundo pagão da celebração celta.


O HALLOWEEN, HOJE

Se analisarmos o modo como o Halloween é celebrado hoje, veremos que pouco tem a ver com as suas origens: só restou uma alusão aos mortos, mas com um caráter completamente distinto do que tinha ao princípio. Além disso foi sendo pouco a pouco incorporada toda uma série de elementos estranhos tanto à festa de Finados como à de Todos os Santos.

Entre os elementos acrescidos, temos por exemplo o costume dos “disfarces”, muito possivelmente nascido na França entre os séculos XIV e XV. Nessa época a Europa foi flagelada pela Peste Negra (peste bubônica), que dizimou perto da metade da população do Continente, criando entre os católicos um grande temor e preocupação com a morte. Multiplicaram se as Missas na festa dos Fiéis Defuntos e nasceram muitas representações artísticas que recordavam às pessoas a sua própria mortalidade, algumas dessas representações eram conhecidas como danças da morte ou danças macabras.

Alguns fiéis, dotados de um espírito mais burlesco, costumavam adornar na véspera da festa de finados as paredes dos cemitérios com imagens do diabo puxando uma fila de pessoas para a tumba: papas, reis, damas, cavaleiros, monges, camponeses, leprosos, etc. (afinal, a morte não respeita ninguém). Também eram feitas representações cênicas, com pessoas disfarçadas de personalidades famosas e personificando inclusive a morte, à qual todos deveriam chegar.

Possivelmente, a tradição de pedir um doce, sob ameaça de fazer uma travessura (trick or treat, “doce ou travessura”), teve origem na Inglaterra, no período da perseguição protestante contra os católicos (1500 1700). Nesse período, os católicos ingleses foram privados dos seus direitos legais e não podiam exercer nenhum cargo público. Além disso, foram lhes infligidas multas, altos impostos e até mesmo a prisão. Celebrar a missa era passível da pena capital e centenas de sacerdotes foram martirizados.

Produto dessa perseguição foi a tentativa de atentado contra o rei protestante Jorge I. O plano, conhecido como Gunpowder Plot (“Conspiração da pólvora”), era fazer explodir o Parlamento, matando o rei, e assim dar início a um levante dos católicos oprimidos. A trama foi descoberta em 5 de novembro de 1605, quando um católico converso chamado Guy Fawkes foi apanhado guardando pólvora na sua casa, tendo sido enforcado logo em seguida. Em pouco tempo a data converteu se numa grande festa na Inglaterra (que perdura até hoje): muitos protestantes a celebravam usando máscaras e visitando as casas dos católicos para exigir deles cerveja e pastéis, dizendo lhes: trick or treat. Mais tarde, a comemoração do dia de Guy Fawkes chegou à América trazida pelos primeiros colonos, que a transferiram para o dia 31 de outubro, unindo a com a festa do Halloween, que havia sido introduzida no país pelos imigrantes irlandeses.

Vemos, portanto, que a atual festa do Halloween é produto da mescla de muitas tradições, trazidas pelos colonos no século XVIII para os Estados Unidos e ali integradas de modo peculiar na sua cultura. Muitas delas já foram esquecidas na Europa.


NOVOS ELEMENTOS DO HALLOWEEN

A celebração do 31 de Outubro – muito possivelmente em virtude da sua origem como festa dos druidas – vem sendo ultimamente promovida por diversos grupos “neo pagãos”, e em alguns casos assume até mesmo o caráter de celebração satânica e ocultista.

Hollywood contribui para isso com vários filmes, entre os quais se destaca a série Halloween, na qual a violência plástica e os assassinatos acabam por criar no espectador um estado de angústia e ansiedade. Muitos desses filmes, apesar das restrições de exibição, acabam sendo vistos por crianças, gerando nelas o medo e uma idéia errônea da realidade.

A ligação dessa festa com o mal e com o ocultismo se comprova também pelo fato de que na noite do 31 de outubro se realizam na Irlanda, nos Estados Unidos, no México e em muitos outros países missas negras e outras reuniões desse tipo.

Na celebração atual do Halloween, podemos notar a presença de muitos desses elementos. As fantasias, enfeites e outros itens comercializados por ocasião dessa festa estão repletos de bruxas, gatos pretos, vampiros, fantasmas e toda espécie de monstros horríveis, que às vezes chegam a ter conotações verdadeiramente satânicas.

Os católicos podem participar das comemorações do Halloween, desde que o façam com sentido cristão, tendo em conta a festa que a Igreja comemora no dia seguinte, e respeitando os limites da Moral, evitando as “farras” e as “bebedeiras”. Evidentemente, isso implica também usar da prudência para afastar-se das manifestações de fundo anticristão que mencionamos acima. Da mesma forma, não há problema com o uso de fantasias, contanto que não sejam demasiado agressivas ou “ousadas”.


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Equipe da Revista Mundo Cristiano
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Fonte: Arvo.net
Link: http://www.arvo.net
Tradução: Quadrante

http://www.quadrante.com.br/Pages/servicos02.asp?id=178&categoria=Doutrina&pg=principal#

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Sonhos

Os Sonhos: Significados

Por Dom Estêvão Bettencourt

Em síntese: Os sonhos são: 1) a expressão do inconsciente, que se manifesta livremente enquanto o consciente se desliga; a psicanálise estuda o significado dos sonhos, nem sempre chegando a interpretação unânime. Os sonhos também são: 2) o veículo pelo qual Deus se quis revelar aos Patriarcas e santos personagens da Bíblia; ver Mt 1,20. 2,13. 19... Em terceiro lugar 3) os sonhos são canais de premonição e precognição , como atestam e comprovam casos famosos registrados pela história. A sabedoria manda que as pessoas se acautelem contra demasiada valorização dos sonhos; podem não ter a importância que lhes querem atribuir.
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Os sonhos deixam muitas pessoas inquietas. Parecem portadores de mensagem que deve ser interpretada e acatada. Reina, porém, certa confusão no setor, que pede esclarecimentos. É o que vamos propor nas páginas subseqüentes.

Podem-se atribuir aos sonhos três funções ou significados:

1.O sonho na Psicanálise

O sonho, segundo a psicanálise, é a expressão do inconsciente, de modo que Por ele se pode descobrir o que vai no íntimo da pessoa. Esta explicação é válida, pois, enquanto o consciente se desliga pelo sono, o inconsciente continua em atividade, que prorrompe livremente através das imagens e do enredo do sonho. A dificuldade, porém, consiste em interpretar autenticamente o simbolismo dessas imagens. Os analistas não concordam entre si, de maneira que dão á mesma figura diversos significados. Daí certa insegurança na interpretação dos sonhos.

2.O sonho na Bíblia

Segundo a Escritura Sagrada, o sonho pode ser um canal de comunicação de Deus aos homens. Assim, entre outros, os sonhos de José do Egito (Gn 37, 5-11; 40; 5-22; 41,1-36), os sonhos de S. José no novo testamento (Mt 1,20;2,13.19) e outros (cf. Gn 20,3s; 28,12; 31,11s;24; Jz 7,13s; 1Sm 28,6s; Jó 33,15...).

Os povos pagãos estimavam grandemente os sonhos como mensageiros da Divindade; pensavam que principalmente os reis eram agraciados por tais comunicações do alto. Já que as imagens vistas em sonhos eram não raro ambíguas, havia intérpretes oficiais das mesmas, que usavam de técnica complexa, aparentemente científica. Param quem não pudesse consultar os adivinhos, existiam catálogos de elucidação. O papiro Chester Beatty lll apresenta alguns critérios de interpretação, tais como estavam em uso no Egito. O documento data da 19ª. Dinastia (cerca de 1300 a.C); refere, porém, idéias contemporâneas à 12ª. Dinastia (1200-1800). Eis o que se depreende do mesmo:

Em muitos casos a interpretação do sonho se fazia simplesmente por analogia: um sonho feliz era bom agouro, ao passo que mau sonho presagiava desgraça. Pão branco em sonho era bom sinal; anunciava prazeres. Sonhar com homens de autoridade e poder também implicava bem-estar para o futuro. Sonhos obscenos valiam como péssimos prenúncios.

Havia, porém, critérios mais complicados, a fim de que a interpretação dos sonhos não ficasse ao alcance de qualquer indivíduo. Assim os trocadilhos ou jogos de palavras eram muito explorados: comer carne de asno, em sonho, significava engrandecimento, elevação, pois os conceitos de “asno”e “grande” eram homônimos. Receber uma harpa implicava desgraça, pois o nome “harpa”, boiné, fazia pensar em Bin, mau.

O homem que tivesse tido um sonho inquietador não devia desesperar, pois havia meios para deter os infortúnios previstos... Recomendava-se-lhe que invocasse a deusa Ísis, a qual saberia como defender o devoto dos males que Sete, filho de Nout, estava para desencadear. Também se usava a seguinte receita: umedecer em cerveja alguns pães com ervas verdes; à mistura acrescentava-se incenso, e com o conjunto resultante se esfregavam o rosto de quem havia sonhado. Este proceder afugentaria todos os maus agouros transmitidos pelos sonhos.

No século ll d.C Artemidoro de Éfeso, baseado em suas experiências, escreveu cinco livros intitulados Oneirokritiká, código importante para os decifradores de sonhos.

É claro que a crença no valor profético dos sonhos estava frequentemente ligada a supertição, preconceitos humanos, e não raro levava a graves erros na vida prática (à semelhança do que ainda nos tempos atuais acontece).

Voltando a Israel, verificamos que lá havia o perigo de que concepções pagãs relativas aos sonhos se mesclassem com as noções monoteístas e religiosamente puras dos israelitas, daí as restrições à interpretação dos sonhos nos textos bíblicos. Com efeito, conforme as Escrituras, não há intérpretes profissionais dos sonhos, como os havia entre os babilônios (c.f Dn 2,2; 4,3; 5,15) e os egípcios (c.f Gn 41,8). A explicação dos sonhos se deve a um dom esporádico de Deus; compete a quem, como o Patriarca José e o Profeta Daniel, possui o “espírito de Deus” (c.f Gn 40,8; Dn 2,27). Os intérpretes populares de sonhos são condenados pela lei de Moisés junto com os magos, os adivinhos, os necromantes...(c.f Lv 19,26; Dt 13, 2-4; 18,10s). Nos tempos da decadência religiosa(séc Vll e Vl) pulavam os falsos profetas, que diziam ter recebido em sonho autênticas comunicações do Senhor; ora o Senhor não cessava de acautelar os seus fiéis contra tais ilusões:

“Ouço os que dizem esses profetas, que em meu nome proferem falsos oráculos afirmando:’tive um sonho, tive um sonho!’...Esses profetas julgam que poderão fazer esquecer o meu nome ao meu povo mediante os sonhos que contam uns aos outros?”( Jr 23,25-27).

Também os sábios de Israel, propondo aos jovens discípulos conselhos para a vida, admoestavam-nos contra as imaginações noturnas:

“O insensato se entrega a esperanças vãs e enganosas, e os dão asas aos tolos. Semelhante àquele que procura apresentar uma sombra ou perseguir o vento, é quem se prende aos sonhos... Do que é impuro, que pode sair de puro? Da mentira, que pode sair de verítico? A adivinhação, os agouros e os sonhos são coisas vãs, semelhantes às imaginações do coração de uma mulher que está para dar à luz” (Eclo 34,1-5).

3.O Sonho na Parapsicologia

Os sonhos são também veículos de precognição ou premonição. Esta não é uma profecia em sentido teológico da palavra, pois profecia é um dom ou carisma de Deus concedido a pessoas especialmente escolhidas para determinada missão; ao contrário; a precognição é um fenômeno natural, decorre das faculdades mesmas da psyché humana. A história conhece famosos sonhos premonitórios, dos quais sejam relatados os seguintes:

a) Numa noite do ano de 1895, o conde José Vicente despertou de seu sono em seu solar da Alameda Barão de Limeira (São Paulo), e disse a esposa que a Condessa de Moreira Lima, sua parenta, acabava de morrer no Rio de Janeiro. E, como o enterro estivesse marcado para Lorena, cidade onde residia a Condessa, o Conde José Vicente seguiu para lá no primeiro trem da Estrada de Ferro Central do Brasil. Ao chegar, perguntou simplesmente ao cocheiro do carro que o levava a que hora sairia o enterro. O cocheiro deu a informação exata. Por conseguinte, não havia dúvida de que a Condessa de Moreira Lima falecera e a precognição fora verídica.

b) J. A. Saymonds, escritor inglês, viu em sonhos uma corrida, em que um cavalo chamado Anton ganhava por quatro corpos. Assombrado, viu no dia seguinte que, em verdade, existia um cavalo com tal nome e que correria nesse dia. Na opinião dos entendidos, o cavalo nenhuma possibilidade tinha de vencer, mas o fato é que venceu...

c) Caso bem comprovado é o do Presidente dos Estados Unidos Abraham Lincoln. Aos 23 de março de 1865, Lincoln convidou alguns para um jantar na Casa Branca. Como no dia anterior, o Presidente dava a impressão de estar muito sério e calado, como se andasse profundamente preocupado. Os convidados o notaram, mas, por delicadeza, não ousaram indagar de causa. De repente Lincoln, quebrando o silêncio, prorrompeu nestas palavras: “Sonhei coisa horrível, o que não deixa sossego, estou sempre a pensar nisso!” E com voz baixa, por vezes embargada, contou aos amigos: “Há dois fui para a cama bem tarde da noite, e meio-morto de cansaço; adormeci logo. Durante a noite sonhei que ao meu redor reinava um silêncio de túmulo e que se ouviam apenas os soluços de muitas pessoas a chorar. Impressionado, levantei-me, desci a escadaria que, dá para a sala de reuniões da Casa Branca. Também lá ouvi soluços e choros, mas não consegui ver ninguém. Apavorado, atravessei diversas salas até chegar a um recinto, cuja janela dava para leste. Soldados montavam guarda de honra ao redor de um sarcófago. Aproximei-me e verifiquei que estava aberto e rodeado de pessoas que choravam inconsolavelmente. Perguntei: ‘Quem morreu na Casa Branca?’ Alguém respondeu: ‘O presidente foi assassinado!’ Após estas palavras, acordei todo banhado em suor.’

Os amigos quiseram consolar o Presidente, mas ele continuou sempre preocupado. Chegou o dia 14 de abril. Naquela noite Lincoln, acompanhado de sua esposa, foi ao teatro Ford. O lugar de honra do Presidente achava-se guardado por um policial secreto. Apagaram-se as luzes e o espetáculo começou. De repente um tiro ecoa pela sala. Gritos de pavores e consternação reboam pelo auditório. Todos os olhares convergem para o camarote do Presidente, que caiu mortalmente ferido por uma bala. O assassino, fanático opositor político do Presidente, procurou fugir, mas logo foi preso...

No dia seguinte também se cumpriu à risca tudo o que Lincoln tinha visto em sonho três semanas antes: no salão situado a Leste da Casa Branca jazia o cadáver do Presidente morto, em câmara ardente, dentro de um sarcófago aberto, rodeado por uma multidão em prantos.

Eis um sonho precognitivo, extraordinariamente rico em indicações concretas, que, segundo os estudiosos, parece excluir qualquer dúvida de autenticidade.

Estes dados são suficientes para se admitir que a precognição se manifesta através de sonhos. Todavia vale a pena lembrar aqui as admoestações dos sábios que pedem cautela na interpretação e valorização dos sonhos em geral; pode ai haver enganos de graves conseqüências. As pessoas que tem sonhos premonitórios, podem sentir angústia e tensão nervosa; faz-se oportuno lembrar-lhes o que está dito às pp. 247s deste fascículo com relação a precognição em geral: vivam o mais normalmente possível, sem pensar muito na possibilidade de um sonho premonitório.



Fonte: http://sociedadeapostolado.blogspot.com/2008/06/sonhos.html

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Jihad e cruzada: Guerras santas assimétricas

Jihad e cruzada: Guerras santas assimétricas

Permalink: http://www.zenit.org/article-15335?l=portuguese

Entrevista com Marco Meschini, historiador medievalista


MILÃO, quarta-feira, 13 de junho de 2007 (ZENIT.org).- Não se pode confundir «jihad» com cruzada. São guerras «santas», mas não são a mesma coisa. Quem explica isso é o historiador Marco Meschini, em seu novo livro em italiano, publicado após o famoso discurso de Bento XVI em Ratisbona, «A jihad e a cruzada» («Il yihad e la crociata», Ed. Ares).

Marco Meschini é historiador medievalista e professor da Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão. Nesta entrevista concedida a Zenit, esclarece conceitos fundamentais para compreender a diferença entre «jihad» e «cruzada»: enquanto a «jihad» é essencial para o Islã, a cruzada não o é para o cristianismo.

--Em que sentido a «jihad» e a cruzada são «guerras santas»?

--Meschini: Por «guerra santa» entendemos uma guerra com dois elementos característicos: para quem adere a ela, é uma guerra dirigida por Deus por seus legítimos representantes; em segundo lugar, participar dela abre as portas do Paraíso.

No caso da «jihad» se deve recordar uma passagem do alcorão fundamental: «Combatei contra aqueles que, tendo recebido a Escritura, não crêem em Alá nem no último Dia, nem proíbem o que Alá e Seu Enviado proibiram, nem praticam a religião verdadeira, até que, humilhados, paguem o tributo diretamente!» (9, 29). É Alá quem quer a «jihad», Alá é santo, portanto a «jihad» é santa, uma guerra santa.

Pelo que se refere ao segundo aspecto -- a entrada no Paraíso --, é preciso recordar um «hadit» (um pensamento de Maomé com valor normativo): «Sabei que o Paraíso está à sombra das espadas».

Também, o «mujahid», o «combatente da jihad», em caso de morte é considerado um «mártir», «shahid», «testemunha», o mesmo sentido literal da palavra grega «martyr», «mártir». É considerado tão santo que seu corpo não deve ser lavado antes da cremação, como prescreveria a lei islâmica, e pode inclusive transpassar parte da própria santidade aos parentes.

--Você, contudo, considera que «cruzada» e «jihad» são «assimétricas». O que as distingue?

--Meschini: Também a cruzada -- para os cristãos da Idade Média -- era querida por Deus, no sentido de que os Papas a pregaram, ligando-a à remissão das penas e os pecados cometidos pelos participantes. E o grito de batalha dos cruzados era: «Deus o quer!».

Uma primeira assimetria é justamente esta: a «jihad» abre diretamente as portas do Paraíso, a cruzada não, porque se entende como parte do processo que pode conduzir ao homem pecador ao Paraíso.

Mas há, contudo, outras assimetrias maiores.

Sobretudo, a «jihad» é tanto defensiva como agressiva, ou seja, instrumento de difusão da religião islâmica que -- recordemos -- significa «submissão» a Alá.

A cruzada, ao contrário, nasceu só depois de mais de um milênio de cristianismo e com um objetivo limitado: recuperar Jerusalém e a Terra Santa, injustamente ocupadas pelos muçulmanos.

Mas é preciso acrescentar que, no curso de uma história plurissecular, houve também cruzadas de expansão, ainda que sem que a idéia original se perdesse completamente.

--Você também considera que a «jihad» é co-essencial ao Islã, e afirma que a «cruzada» não é para o cristianismo.

--Meschini É a assimetria mais radical. Como disse, a guerra santa é uma prescrição corânica -- e o Alcorão é a Palavra de Alá, eterna e imutável -- praticada por Maomé e dotada de toda uma série de regras acessórias.

Ainda hoje, para todos os islâmicos, a «jihad» é o «sexto pilar» do Islã, ou seja, um dos preceitos que constituem a identidade de sua religião.

Vice-versa, não existe nenhum texto sagrado cristão que fale de uma guerra semelhante, nem o modelo, que é Cristo, a prevê, ao contrário! Por isso, a cruzada, certamente surgida em um contexto cristão, não precisa se repetir em outros contextos cristãos; nem tem a ver com o «kerigma», «o núcleo» da revelação cristã.

--Falar de «jihad» e cruzadas hoje não implica o risco de tornar mais difícil o diálogo entre cristianismo e islã?

--Meschini: Qual é o objetivo do diálogo? Eu penso que é conhecer-se melhor e, se é possível, chegar a um nível superior de verdade. Portanto, a verdade, ou ao menos a honestidade intelectual, é uma premissa, ou melhor, uma condição irrenunciável do diálogo.

Por isso, eu quis desmascarar alguns comentaristas que, após contorções verbais, tentam camuflar a verdade histórica, jurídica e teológica ligada ao tema da «jihad».

--O que queria dizer o Papa em Ratisbona quando falou do discurso de Manuel II Paleólogo sobre estes temas?

--Meschini: Bento XVI foi muito claro: a fé e a verdade podem ser propostas e difundidas só de intelecto a intelecto e de coração a coração, em um mútuo intercâmbio de razão e credo.

E, portanto, expandir a própria religião «com a espada» é uma monstruosidade antitética ao «Logos», à Razão, ou seja, a Deus. E a violenta reação de tantos às suas palavras foi -- dramaticamente -- uma involuntária, mas «perfeita» resposta de confirmação a seu discurso.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Caveira

Caveira


Quando os crânios começaram a ser usados em terços?

Podemos rastrear o uso de crânios em contas de oração e terços por volta da Idade Média (1066-1485). [1]






CAVEIRA, significado:

GÓLGOTA

O termo aramaico significa "lugar do crânio"ou da caveira (em latim Calvaria, donde "Calvário"); é o lugar onde Jesus foi crucificado (Mt 27,33; Jo 19,17). Era uma pequena colina, fora dos muros de Jerusalém, onde os condenados eram executados. [2]

Chegaram ao lugar chamado Gólgota, isto é, lugar do crânio. ( Mt 27,33 )

Levaram então consigo Jesus. Ele próprio carregava a sua cruz para fora da cidade, em direção ao lugar chamado Calvário, em hebraico Gólgota. ( Jo 19, 17 )





Havia uma tradição corrente entre os judeus que o crânio de Adão, depois de ter sido confiado por Noé ao seu filho Shem, e por este a Melchisedech, finalmente foi depositado no local chamado, por essa razão, o Gólgota. O Talmudists e os Padres da Igreja sabiam dessa tradição, e que sobreviveu nos crânios e ossos colocados aos pés do crucifixo. Os Evangelistas não se opõem a ela, na medida em que eles falam de uma e não de muitas caveiras. (Lucas, João, Marcos, loc. Cit.) [3]

A Caveira no crucifixo também simboliza a vitória sobre a morte. [4]



terça-feira, 15 de junho de 2010

Armas

Armas



ATENÇÃO: [...] há que se entender que qualquer cidadão tem o direito de portar ou transportar qualquer tipo de arma branca sem o semblante da ilegalidade, mas com a consciência de que existem lugares próprios para cada tipo de ferramenta sem ofender ou agredir outras pessoas. Ou seja, o porte nos centros urbanos deve ser discreto, diferentemente da área rural onde o seu uso é ostensivo e rotineiro.

( http://www.jurisnet.adv.br/atuacao_segundo_grau/HC_arma_branca_garfo_HC131387_2Cam.pet.htm
)


Ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo, a não ser em virtude da lei (artigo 5.º, inciso II)

ARMAS BRANCAS – FATO ATÍPICO

1- O PORTE DE ARMA BRANCA CONSTITUI FATO ATÍPICO, VISTO QUE NÃO PREVISTO PELA LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS OU PELA LEI Nº 10.826/2003.

2- O CAPUT DO ART. 19 DO DECRETO-LEI 3688/41 ESTABELECE QUE CONSTITUI CONTRAVENÇÃO TRAZER CONSIGO ARMA FORA DE CASA OU DE DEPENDÊNCIA DESTA, SEM LICENÇA DA AUTORIDADE COMPETENTE.

3- O TIPO CONTRAVENCIONAL NÃO SE ESGOTA NA DESCRIÇÃO DA CONDUTA DE TRAZER CONSIGO ARMA FORA DE CASA OU DE DEPENDÊNCIA DESTA. SOMA-SE AO TIPO O ELEMENTO NORMATIVO: A INEXISTÊNCIA DE LICENÇA DA AUTORIDADE COMPETENTE, PARA QUE SE CONSIDERE PREENCHIDO O TIPO PENAL.

4- NÃO HÁ REGULAMENTAÇÃO DE LICENÇA PARA PORTE OU USO DE ARMAS BRANCAS, ASSIM ENTENDIDAS AS FACAS. SE NÃO HÁ NORMA JURÍDICA QUE DISCIPLINE AS CONDIÇÕES EM QUE O USO DE ARMA BRANCA PODE SER ADMITIDO, NÃO HÁ COMO SOLICITAR AUTORIZAÇÃO PARA O SEU PORTE, NÃO CONFIGURANDO O PORTE DE ARMA BRANCA A CONTRAVENÇÃO PREVISTA NO ART. 19 DA LEI DAS CONTRAVENCOES PENAIS. [1]



.


ATENÇÃO

São considerados de uso restrito conforme art. 16, inciso XV do Decreto nº 3.665/2000 (R-105).

XV – espadas e espadins utilizados pelas Forças Armadas e Forças Auxiliares;
XVI - equipamentos para visão noturna, tais como óculos, periscópios, lunetas, etc;
XVII - dispositivos ópticos de pontaria com aumento igual ou maior que seis vezes ou diâmetro da objetiva igual ou maior que trinta e seis milímetros;
XVIII - dispositivos de pontaria que empregam luz ou outro meio de marcar o alvo;



CARABINAS DE PRESSÃO NÃO SÃO
ARMAS DE FOGO.

De acordo com a Portaria n° 36-DMB, de 09 de dezembro de 1999, (norma que regula o comércio de armas e munições aprovada pelo Ministério da Defesa e Exército Brasileiro) armas de pressão por ação de mola, com calibre igual ou inferior a 6mm, não são armas de fogo. Portanto:

- Não necessitam de registro para sua aquisição, porém sua venda só é permitida a maiores de 18 anos com devida comprovação;

- Não necessitam de guia de tráfego para transporte e deslocamento;
Veja abaixo a transcrição do trecho da Portaria n° 36-DMB/99:

TÍTULO II

NORMAS PARA AQUISIÇÃO DE ARMAS E MUNIÇÕES DE USO PERMITIDO, POR CIVIS, MILITARES E POLICIAIS

CAPÍTULO VII
Da Venda de Armas de Pressão

Art. 16. As armas de pressão, por ação de mola ou gás comprimido, não são armas de fogo, atiram setas metálicas, balins ou grãos de chumbo, com energia muito menor do que uma arma de fogo.

Art. 17. As armas de pressão por ação de mola, com calibre menor ou igual a 6 (seis) mm, podem ser vendidas pelo comércio não especializado, sem limites de quantidade, para maiores de 18 (dezoito) anos, cabendo ao comerciante a responsabilidade de comprovar a idade do comprador. [2]


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Curiosidade

Besta – Balestra – Crossbow – Arco em Cruz - Arquearia


Concílio de Latrão II

N° 29. We prohibit under anathema that murderous art of crossbowmen and archers, which is hateful to God, to be employed against Christians and Catholics from now on.


Tradução Livre: Nós proibimos sob anátema que a arte assassina de besteiros e arqueiros, que é odioso a Deus, a ser empregada contra os cristãos e os católicos a partir de agora. [3]

Um bom artigo:

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6864

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[1] http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/2393882/apj-20070111046750-df-tjdf

[2] http://www.falconarmas.com.br/shop/armaspressao.htm

[3] http://www.documentacatholicaomnia.eu/04z/z_1139-1139__Concilium_Lateranum_II__Documenta_Omnia__EN.pdf.html

Imagens:
[Arco e besta] http://www.apaginadomonteiro.net/os_arcos_e_bestas.htm

[canivete] http://www.arcobesta.com/


Atualização:

PORTARIA MINISTÉRIO DA DEFESA - DFPC
DIRETORIA DE FISCALIZAÇÃO DE PRODUTOS CONTROLADOS
PORTARIA Nº 02-COLOG, DE 26 DE FEVEREIRO DE 2010.

§2º O portador de arma de pressão por ação de mola de uso permitido deverá sempre conduzir comprovante da origem lícita do produto.

§3º A arma de pressão por ação de gás comprimido ou por ação de mola não poderá ser conduzida ostensivamente sob pena de configurar infração administrativa prevista no R-105.