As cavalhadas
Fonte: Revista Catolicismo
Fotos: cavalhadas de corumba
Os desfiles de cavaleiros em festividades oficiais são muito .antigos, poiS já os romanos no início da era cristã tornaram-nos habituais, na celebração de seus ·triunfos militares e em suas festividades pagãs.
Na Idade Média, a aristocracia utilizava o cavalo em torneios ou combates coletivos e nas justas ou combates individuais, exibindo desse modo sua valentia e perícia. Tais atividades dos cavaleiros nobres faziam reviver, a seu modo, os torneios dos gladiadores de Roma, se bem que despojadas do espírito pagão e vivificadas pelo cavalheirismo cristão, que atingiu seu ápice na instituição da Cavalaria.
Esta, conforme tradições legendárias, surgiu com o Imperador Carlos Magno e seus Doze Pares de França, no século IX.
Em Portugal, a cavalaria teve início com o nascimento do próprio reino, e tomou-se um elemento sempre presente e de destaque nas festas religiosas, políticas ou guerreiras. Ela surgiu no Brasil-Colônia com as mesmas características portuguesas, no decorrer do século XVII.
Cavalhadas no Brasil
O povoamento de nosso País deu-se justamente quando a Mãe-Pátria ainda lamentava as inúmeras perdas que sofrera nas lutas contra os invasores mouros.
Aqui não havia somente o índio, o mameluco e o escravo a serem cristianizados. O próprio colonizador português e os nativos necessitavam de assistência religiosa. As circunstâncias em que se realizaram a colonização exigiram que eles se tornassem verdadeiros soldados da Religião.
As festas populares visavam atingir essa finalidade. E com o mesmo objetivo a Igreja promoveu as cavalhadas, luta entre cristãos e mouros, dramatizadas com grandes festejos e difundida entre os senhores das terras, os fazendeiros, que apresentavam os animais enfeitados, numa festa de sedas e veludos.
Atualmente, as cavalhadas que se realizam no Brasil nem sempre se ajustam às regras da cavalaria clássica, e nem conservam o esplendor de outrora. Variam muito, dependendo das regiões, quanto ao estilo, número de participantes e trajes. Contudo, os tradicionais personagens cristãos e mouros nunca faltam, lutando entre si, assegurada invariavelmente a vitória final aos cristãos. Sua apresentação é comum durante as festas do Divino, em agradecimento a Deus pelos bons frutos das colheitas.
Nossas cavalhadas têm início com a vis ita dos participantes à igreja do local onde serão realizadas. Depois seguem estes em cortejo, acompanhados de uma banda de música, para a sua apresentação.
Representações preliminares
A cavalhada começa com o "jogo das argolas". E colocada uma argolinha enfeitada com fitas numa trave ou poste. Os cavaleiros devem retirar a argolinha com a ponta de uma lança, no momento em que o cavalo passar a galope embaixo do poste.
Em seguida vêm as escaramuças, que exigem muita habilidade por parte dos cavaleiros. Eles deverão espetar com suas lanças, durante veloz corrida a cavalo, máscaras que giram em um pino; projetam estas sobre o cavaleiro determinado peso, que poderá atingi-lo se ele não escapar a tempo.
Por fim, o ponto central das cavalhadas: a luta simulada entre dois partidos, o dos cristãos e o dos mouros - tema religioso, teatro de praça pública -, visando transmitir assim ao povo uma lição mediante a qual o Bem, representado pelos cristãos, vence o mal, figurado pelos mouros.
O Imperador Carlos Magno e seus Pares combatem os mouros, aparecendo na linguagem simples e poética do nosso povo como personagens célebres.
A vitória do Bem
Cada um dos dois grupos apresenta um rei, um embaixador e 10 cavaleiros, ricamente vestidos com veludos, rendas, arminhos e bordados, portando lança, espada e pistola. Cada figurante monta um cavalo todo engalanado para a ocasião. A
banda de música acompanha todo o espetáculo.
Os contendores - tomando de ponta a ponta posição na praça, com suas bandeiras e demais símbolos prestes para a disputa, partindo dos mouros a provocação inicial - avançam e a luta começa, renhida. O combate tem longa duração. Os cavaleiros mais adestrados são sempre escolhidos para integrarem o partido cristão, a fim de garantir a vitória do Bem. O cavaleiro atingido pela arma contrária trata logo de cair e se rende, evitando assim levar do adversário uma estocada mais séria.
Finalmente os cristãos triunfam e, senhores na luta, dirigem-se ao centro da praça, erguendo suas armas e lançando brados de vitória.
Rojões, fogos de artifícios em grande quantidade e acordes das bandas de música anunciam o epílogo das cavalhadas.
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BIBLIOGRAFIA
1. Brasil – Histórias, costumes e lendas, Editora Três, São Paulo, 1980.
2. Luis da Câmara Cascudo. Dicionário do Folclore Brasileiro, Editora Itatiaia, Belo Horizonte, 1988.
3. São Paulo - Festa e Canção, Spala Editora, Rio de Janeiro. 1982.
4. Luiz Edmundo, O Rio de Janeiro no tempo dos vice-reis, Athena Editora, Rio, 1960.