segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Templários custodiaram Manto de Turim, confirma perita

Templários custodiaram Manto de Turim, confirma perita




ROMA, 07 Abr. 09 / 04:38 am (ACI).- Barbara Frale, uma perita italiana estudiosa da desaparecida Ordem dos Templários, precisou em um recente artigo que estes cavaleiros medievais custodiaram durante um século o Manto de Turim, para que este não caísse em mãos dos hereges da idade Média como os cátaros.

Em seu novo livro que será publicado dentro de pouco, titulado "Os templários e a Síndone de Cristo", Frale dá a conhecer os detalhes que sustentam esta afirmação a partir de seus estudos no Arquivo Segredo Vaticano que recentemente deu a conhecer o "Processo contra os templários".

Neste processo, explica a perita italiana, aparece uma história em que se relata que em 1287 um jovem de boa família chamado Arnaut Sabbatier ingressou na ordem e após sua admissão foi levado a um lugar privado do templo para que venerasse o Manto de Turim beijando-o três vezes os pés. Segundo Frale, este desconhecido episódio para os historiadores oferece mais detalhes a sua investigação.

Em 1978, prossegue Frale "um historiador de Oxford, Ian Wilson, reconstruiu as peripécias históricas da Síndone, precisando que esta foi roubada da capela dos imperadores bizantinos durante o tremendo saque consumado durante a quarta cruzada em 1204" e comparava este dado com o fato que os templários "adoravam secretamente um misterioso 'ídolo' no que se apreciava a um homem barbado".

Barbara Frale precisa depois que "graças a uma série de indícios, o autor (Wilson) sugeria que o misterioso 'ídolo' venerado pelos templários não era outro que a Síndone de Turim, colocada em uma urna especial que era feita de modo que só se pudesse ver o rosto, venerada absolutamente em segredo assim que sua mesma existência ao interior da ordem era um fato muito comprometedor: o objeto tinha sido roubado durante um horrível saque, sobre cujos autores o Papa Inocencio III tinha declarado a excomunhão. O Concílio Lateranense em 1215 já tinha sancionado a mesma pena para o tráfico de relíquias".

Para Wilson, precisa Frale, os "anos escuros" nos que não se sabe nada do Manto de Turim, correspondem a aqueles nos que foi "custodiada absolutamente em segredo pelos templários".

Em resumo, diz logo a perita italiana "os templários se procuraram a Síndone para conjurar o risco de que sua própria ordem sofresse a mesma contaminação herética que estava afligindo a grande parte da sociedade cristã de seu tempo: era o melhor antídoto contra todas as heresias", como a dos cátaros que afirmavam que Cristo não tinha um corpo humano nem sangue, não tinha sofrido a Paixão, não tinha morrido nem ressuscitado.
Por isso, ter uma relíquia com rastros de sangue, que se podia "ver, tocar e beijar", continua Frale em um artigo de L'Osservatore Romano, era algo que "para o homem da idade Média não tinha preço, algo muito mais capitalista que um bom sermão", algo que os Papas entenderam bem, "por isso se compreendem iniciativas como a de Inocencio III que promoveu o culto à Verônica ou a de Urbano IV que solenizou o milagre (eucarístico) de Bolsena instituindo a festa do Corpus Domini".


"Este livro –uma reconstrução de corte histórico-arqueológico que não entra em questões teológicas– representa a primeira parte de um estudo dedicado a Síndone que se complementará com um segundo volume em preparação de imprensa: A Síndone de Jesus Nazareno", conclui.

Outros livros da Barbara Frale são "A última batalha dos templários. Do código de obediência militar à construção do processo por heresia" (2001), "O Papado e o processo aos templários. A inédita absolvição de Chinon à luz da diplomacia pontifícia" (2003), "Os Templários" (2007); e "Notícias históricas sobre o processo aos templários" (2007).



quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Iniciação à Filosofia de Santo Tomás de Aquino.

INICIAÇÃO À FILOSOFIA DE S. TOMÁS DE AQUINO

H. D. Gardeil

990 páginas.


PRIMEIRA PARTE: INTRODUÇÃO GERAL E LÓGICA

INTRODUÇÃO HISTÓRICA E LITERÁRIA.
NOÇÃO GERAL DE FILOSOFIA.
INTRODUÇÃO À LÓGICA.
A PRIMEIRA OPERAÇÃO DO ESPÍRITO.
A DEFINIÇÃO E A DIVISÃO.
UNIVERSAIS, PREDICÁVEIS E
PREDICAMENTOS.
A SEGUNDA OPERAÇÃO DO ESPIRITO.
O SILOGISMO.
A INDUÇÃO.
A DEMONSTRAÇÃO.
TÓPICOS - SOFISMAS - RETÓRICA.
CONCLUSÃO.

SEGUNDA PARTE: COSMOLOGIA

INTRODUÇÃO.
OS PRINCÍPIOS DO SER MÓVEL.
A NATUREZA.
AS CAUSAS DO SER MÓVEL.
O MOVIMENTO.
AS CONCOMITANTES DO MOVIMENTO.
PRIMEIRA PARTE: INFINITO, LUGAR, VAZIO
E ESPAÇO.
AS CONCOMITANTES DO MOVIMENTO.
SEGUNDA PARTE: O TEMPO.
A PROVA DO PRIMEIRO MOTOR.

TERCEIRA PARTE: PSICOLOGIA

PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
A VIDA E SEUS GRAUS
DEFINIÇÃO ARISTOTÉLICA DA ALMA
AS POTÊNCIAS DA ALMA
A VIDA VEGETATIVA
A VIDA SENSITIVA: O CONHECIMENTO
SENSÍVEL
O CONHECIMENTO INTELECTUAL. POSIÇÃO
DO TRATADO DA INTELIGÊNCIA
NOÇÃO GERAL DO CONHECIMENTO
O OBJETO DA INTELIGÊNCIA HUMANA
O OBJETO PRÓPRIO DA INTELIGÊNCIA
HUMANA
O OBJETO ADEQUADO DA INTELIGÊNCIA
HUMANA

A INTELIGÊNCIA HUMANA E A VISÃO DE
DEUS
FORMAÇÃO DO CONHECIMENTO
INTELECTUAL
A ATIVIDADE DA INTELIGÊNCIA
A VOLTA ÀS IMAGENS
O PROGRESSO DO CONHECIMENTO
HUMANO
O CONHECIMENTO DO SINGULAR E DO
EXISTENTE
O CONHECIMENTO DA ALMA POR SI
MESMA
CONCLUSÃO: POSIÇÃO DA TEORIA DO
CONHECIMENTO INTELECTUAL EM S.
TOMÁS
A VONTADE
A VONTADE E AS OUTRAS FACULDADES
DA ALMA
O LIVRE ARBÍTRIO
A ALMA HUMANA
CONCLUSÃO


QUARTA PARTE: METAFÍSICA


INTRODUÇÃO
O SER
O SER - ESTUDO CRITICO
OS TRANSCENDENTAIS EM GERAL
OS TRANSCENDENTAIS EM PARTICULAR. O
UNO.
OS TRANSCENDENTAIS EM PARTICULAR. O
VERO.
OS TRANSCENDENTAIS EM PARTICULAR. O
BEM.
OS TRANCENDENTAIS. CONCLUSÃO.
AS CATEGORIAS
A SUBSTÂNCIA
OS ACIDENTES
O ATO E A POTÊNCIA
ESSÊNCIA E EXISTÊNCIA
A CAUSALIDADE


http://www.documentacatholicaomnia.eu/03d/sine-data,_Gardeil._HD,_Iniciacao_A_Filosofia_de_S._Tomas_de_Aquino,_PT.pdf


ou

http://rs78.rapidshare.com/files/263754298/Iniciacao_A_Filosofia_de_S_Tomas_de_Aquino_Gardeil_HD.pdf

Santo Tomás de Aquino - Suma Teológica

Santo Tomás de Aquino - Suma Teológica


Santo Tomás de Aquino

Príncipe da Filosofia e Teologia Católicas. Proclamado como "esplendor e flor de todo o mundo" por Santo Alberto Magno, foi cognominado Doutor Angélico pelo Papa São Pio V, tendo recebido da Santa Igreja o título oficial de Doutor Comum, devido à sua incomparável sabedoria teológica e filosófica.

Plinio Maria Solimeo

[...]

A fama de Santo Tomás tornou-se universal, e todos queriam ouvi-lo. São Luís IX — o Rei Cruzado — o consultava sobre todos os assuntos importantes. Certo dia em que o convidou para sua mesa, o frade estava muito silencioso. De repente, dando um murro na mesa, Tomás exclamou: "Encontrei um argumento concludente contra os maniqueus".


O rei, temendo que Tomás pudesse esquecer-se do argumento, chamou depressa seu secretário para anotá-lo. "Edificante quadro medieval, bem demonstrativo da perfeita unidade que liga, nesse período nobilíssimo da História, os Reis e os Sábios, nos mesmos ideais da conquista da verdade e do serviço de Deus!" (João Ameal, op. cit., p. 115.)


[...]

"Não pode haver nenhum tipo de dúvida a respeito da natureza da deliberação do santo Pontífice: deve-se seguir Santo Tomás como mestre na filosofia e na teologia, porque ‘afastar-se de Santo Tomás num só ponto, especialmente nas coisas da metafísica, não ocorreria sem grave dano’. (Papa São Pio X)


Veja o Artigo Completo: http://www.lepanto.com.br/dados/HagTomas.html


Lei Eterna e Lei Natural em Santo Tomás de Aquino

Lei Eterna e Lei Natural em Santo Tomás de Aquino







Aula do Professor Carlos Nougué


Veja Também: http://duglan.blogspot.com/2009/11/curso-tomista-de-historia-da-filosofia_08.html

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Bestiário

Bestiário pode ser definido como livro em que, na Idade Média, se reuniam descrições e histórias de animais, reais ou imaginários, geralmente com ilustrações, acompanhadas de uma explicação moralizadora.


Texto do website do professor Ricardo da Costa:

O Leão


O que em grego se chama “leão” significa “rei” em francês. O leão, de várias formas, domina muitos animais. Por isso o leão é rei. Escutai agora suas propriedades.

Tem a expressão ardente, o pescoço grosso e com juba; o peito, na frente, é quadrado, valente e agressivo, os quartos traseiros, delgados; tem um grande rabo e as patas lisas e ágeis próximas aos pés; os pés, grossos e cortados, têm unhas largas e curvadas. Quando tem fome, enfurecido, trata os animais como a esse asno que urra e fala [2]. Escutai, pois, com toda a convicção, o significado disso.

O leão significa o Filho da Virgem Maria. É, sem dúvida alguma, o rei de todos os homens; por sua própria natureza, tem poder sobre todas as criaturas.



Deixo aqui alguns links úteis para pesquisar sobre o bestiário.





sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Stellarium - Programa de Astronomia

Um execelente programa para vizualizar o céu.




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na versão 0.10.0

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A Mulher na Idade Média






A MULHER NA IDADE MÉDIA

Por Fernanda Carminati Zambrotti Azevedo

A história da mulher na idade média é sempre ocultada e distorcida, bem como toda a história da idade média. Alguns chegam ao absurdo de dizer que neste tempo da história era considerado que a mulher não possuía alma. Estranhamente vemos neste período um dos de maior devoção a Santíssima Virgem Maria; quantos não foram os artistas a retratarem-Na majestosamente? Além do que, se fosse do pensamento da Igreja que a mulher não tivesse alma, porque ministrava a elas os sacramentos? Ou porque se difundiam tantas ordens religiosas dedicadas às mulheres?



Importantes figuras femininas insurgiram na Idade Média, precisamente pelo fato de que este foi um período áureo da sociedade católica, onde Igreja exercia grande papel na vida social e cotidiana:



Rainhas como Branca de Castela, e Eleonora de Aquitânia, exerceram legitimamente sua autoridade de governantes, na ausência do rei (morto ou doente). A coroação de uma Rainha era de grande solenidade, tal como a dos reis, geralmente acontecia em uma catedral.



Grandes lideranças, como Santa Joana D`arc, Santa Catarina de Senna. Grandes intelectuais como a abadessa Herrade de Landsberg, que é autora da mais conhecida enciclopédia do século XII; e Santa Brígida que fundou inúmeros mosteiros. Existiam mulheres no posto de “senhor feudal. Existiam as abadessas, a filha de Santa Edwiges, Gertrudes, era abadessa; e muitas outras, que eram até mesmo superioras não só de mosteiros femininos, mas também masculinos, como a abadessa Pétronille de Chemillé.


Existiam mulheres em variados cargos e encargos da sociedade, a historiadora Regíne Pernoud assevera- “Através de documentos, pôde-se constatar a existência de cabeleireiras, salineiras (comércio do sal), moleiras, castelãs, mulheres de cruzados, viúvas de agricultores, etc.”-.

A Socióloga Évelyne Sullérot afirma que quase todas as profissões foram acessíveis às mulheres nos séculos X, XI, XII, XIII e XIV.


È claro que muitos poderiam questionar que na idade média havia ainda uma predominância masculina, claro, isso derivou dos séculos em que a sociedade marginalizou a mulher. Mas o que é interessante notar, e é incontestável frente aos fatos, é que Igreja lutou pela mulher, a educou como nunca antes: “Na Idade Média, algumas universidades, e, muito particularmente a universidade de Bolonha, tinham admitido, do século XII ao século XVII, algumas mulheres, e chegaram a oferecer cátedras de direito a diplomadas femininas como, por exemplo, Magdalena Buonsingnori, Betina Calderini e Bettesta Gozzadini.”- (Sullérot 1970, p.l 10).

Santa Hildegard de Bingen, escreveu os mais conhecidos tratados de medicina do século XII no ocidente; compôs também mais de setenta sinfonias, além de escritos de espiritualidade e teologia. A abadessa Hrotsvitha tem conhecida influencia literária sobre os países germânicos, a ela são atribuídas seis comédias em prosa rimada.



Como nunca antes a mulher foi ouvida: imaginemos o Papa escutando e atendendo Santa Catarina de Senna. Já imaginaram o Rei da França recebendo uma jovem camponesa e dando atenção aos seus conselhos a ponto de confiar a ela um exército? Difícil imaginar isso em nossos dias, mas foi exatamente isto que aconteceu com Santa Joana D’Arc.


A idade média é o modelo mais perfeito de sociedade ordenada; hoje é certo que as mulheres têm direitos equiparados aos dos homens, porém a mulher teve que se tornar masculinizada para isto, teve que imitar o homem para ser respeitada, e por isto em nosso século está extinta a figura materna, a figura doce, na mulher moderna. Na idade média, pelo contrário, a mulher achou seu espaço da forma que ela é, forte e doce, profissional e mãe, atuante e esposa. E porque isto aconteceu na idade média? Mais uma vez, exatamente pelo fato da sociedade medieval curvar-se aos desígnios divinos, colocando-se sob a tutela da Igreja, pois foi a Igreja quem restaurou o lugar de destaque da mulher na sociedade, a valorizou, a defendeu, a superestimou.


È clichê dizer que na Idade Média era costumeiro que o pai escolhesse o futuro esposo da filha, é verdade, porém isto não acontecia só com a moça, mas também com o rapaz. Além do que, vale destacar que a Igreja sempre se opôs a esta prática. -“ Uma força lutou contra estas uniões impostas, e esta foi a Igreja; ela multiplicou, no direito canônico, as causas de nulidade, reclamou sem cessar a liberdade para os que se unem” - (Pernoud, Regíne. Idade Média, o que não nos ensinaram).

Ainda hoje encontramos em grande parcela da população mundial a ausência desta liberdade fundamental, pela qual sempre lutou a Igreja; sendo que nos países orientais são absolutamente comuns os casamentos impostos.


Dizem ainda que na idade média a mulher era tratada como inferior ao esposo, sempre servil a ele; quando na verdade observa-se que a mulher não é inferior ao homem, apenas são diferentes, e ocupam na vida familiar posições distintas. Tal qual a prescrição evangélica, o homem medieval é a cabeça de seu lar, mas tem por sua vez uma obrigação irrevogável, amar a esposa. Vemos por isso na idade média, a figura do cavaleiro, um bravo e destemido, sempre pronto a dar a vida pelo papa, pelo rei, e pela amada. Esta é uma verdadeira tradução do seguinte trecho de São Paulo: - "As mulheres estejam sujeitas a seus maridos, como ao Senhor, porque o marido é cabeça da mulher, como Cristo é cabeça da Igreja, seu corpo, do qual Ele é o Salvador.. Ora, assim como a Igreja está sujeita a Cristo, assim o estejam também as mulheres a seus maridos em tudo. Maridos, amai as vossas mulheres, como também Cristo amou a Igreja e por ela se entregou a si mesmo (...)" (Ef. V, 22-25).

Para encerrar a questão de que as mulheres eram mal tratadas na idade média, segue um trecho de um grande teólogo da época, o extraordinário São Tomás de Aquino, - “A mulher não deve "dominar o homem", conforme a frase do Apóstolo [São Paulo] (I Tim, II, 12). Por essa razão, Deus não fez a mulher de um osso da cabeça do homem. Nem tão pouco deve o homem desprezá-la, como se ela lhe estivesse submetida servilmente -- [com subserviência] -- , e, por isso, ela não foi feita de uma matéria retirada dos pés do homem.” (S. Tomás de Aquino, Suma Teológica, I q. 92, a. 3)

Ao contrário do período antigo onde a civilizações, principalmente a greco-romana, não davam o menor valor a mulher, o que ainda acontece com alguns povos( na China é absolutamente comum o aborto de meninas). Um historiador afirma : - “Em Roma, a mulher, sem exagero ou paradoxo, não era sujeito de direito... Sua condição pessoal, as relações da mulher com seus pais ou com seu marido são da competência da domus da qual o pai, o sogro ou o marido são os chefes todo-poderosos... A mulher é unicamente um objeto”-.


No Direito Romano, a mulher era perpetuamente “menor”, passava da tutela do pai para à do marido. Durante a idade média, sob o refúgio da igreja, a mulher supera esta condição de inferioridade. O casamento monogâmico assegura a mulher um posto de destaque na vida familiar, e conseqüentemente na vida social. Exatamente como assevera São Paulo: - “A mulher não pode dispor de seu corpo: ele pertence ao seu marido. E da mesma forma, o marido não pode dispor de seu corpo: ele pertence à sua esposa” (1 Cor 7, 4. )

Fazendo uma linha histórica, vemos na antiguidade clássica, a cultura romano-helenica, a mulher em uma posição sempre servil, rasteira, que em pouco diferia dos escravos, sem vontade ou liberdade, sem prestígio ou opinião. Aí chegamos à idade média, uma era muito heterogênea e de crescente espiritualidade cristã; então a mulher adquiri direitos, é vista não mais como objeto, é posta em equivalência com o homem; na família ela presta ao marido uma relação de submissão e não de escravidão, e o marido ama a esposa porque ela não é um objeto seu, mas é uma parte dele.



Seguindo a linha do tempo, passado o esplendor da baixa idade média, chegamos ao período decadente deste tempo e começo do Renascença. Renascença de que? Os renascentistas buscavam um renascimento da antiguidade clássica, por isso vemos mais uma vez o culto aos ídolos, e entre outros, o revigoramento do Direito Romano; desta forma, a mulher retoma aquela inferioridade dos tempos antigos, perde muitos direitos, e cai de cena. Entre os renascentistas é citada alguma mulher? Alguma figura feminina emblemática?

Mais um paralelo que se pode traçar entre a estas “duas” mulheres, a medieval e a atual, é no que diz respeito a maternidade. A capacidade de gerar filhos está entre as mais excelsas prerrogativas femininas, e foi sempre vista de forma natural e desejável. A mulher da idade média, muita vez intelectual como Eleonor de Aquitânea, ativa como Branca de Castela, piedosa como Santa Brígida, ou simples como uma camponesa comum, tinham, entretanto, um desejo em comum, o de gerar os filhos, tantos quanto fossem da vontade de Deus e de dá-los todos a Deus novamente.

A Rainha Branca de Castela foi uma grande estadista, entretanto teve quatorze filhos,e depois da morte de seu marido, o rei Luiz VIII, foi ela quem regeu a França até que seu filho mais velho atingisse a maior idade. Eleonor de Aquitânea, avó materna de Branca de Castela, foi outra importante Rainha, e teve também uma dezena de filhos.

A Rainha Branca de Castela governava a França ao mesmo tempo em que educava seus inúmeros filhos, foi uma grande monarca, mas primeiramente, foi uma exímia mãe, formando seus filhos para a Coroa e para Deus; para que fossem bons como Senhores do povo, e ainda muito melhores como servos de Deus. Não é de se estranhar que no rebento de uma mãe tão zelosa, contem-se muitos santos; um de santidade heróica reconhecida pela Igreja, e que hoje brilha na glória dos Altares, o grande São Luiz IX.


A mulher atual, vai na contramão de tudo o que dissemos acerca desta mulher maternal da idade média. Sacrificam tudo as custas de grandes carreiras, de cargos de chefia, de triunfo profissional, sacrificam até mesmo esta parte tão bela de sua natureza, que é a natureza de gerar.

É triste ver a mulher moderna consumir-se em um egoísmo infeliz, que vem as fadando ao fracasso; não um fracasso profissional ou financeiro, mas um fracasso existencial.

Não é estranho perceber que em uma era em que tudo o que vale é ser feliz, o mundo caminha para uma tristeza mórbida? E porque? Porque as pessoas estão muito vazias. Tão vazias que procuram de todas as formas, maneiras para sentirem-se repletas; e por isso nunca como hoje se viu tão acentuada a procura por prazeres efêmeros: na droga, no álcool, em vícios diversos, na sexualidade desordenada.

Mas como podem estar vazios em uma era em que o homem já alcançou as estrelas, já dominou os pólos da terra, já desvendou tantos mistérios do mundo? Fato é que estão vazios; vazios porque não cumpriram a missão que Deus os incumbiu; muitos até abraçaram o casamento, porém tiraram dele parte fundamental: multiplicar-se, e encher o reino do Deus; se, é claro, for da vontade de Deus que o casal tenha filhos.

A mulher da idade média é um modelo para todas as gerações de mulheres, porque são mulheres que acharam a verdadeira felicidade. Acharam-na cumprindo o que Deus queria delas, como rainhas, mães, esposas, camponesas, como leigas consagradas no mundo, como religiosas encerradas em conventos, como nobres ou na servidão, como filósofas ou bordadeiras, poetisas e cozinheiras; enfim, como mulheres a serviço de Deus, mulheres dignificadas pela dignidade de Maria que apagou a chaga deixada por Eva, mulheres à imagem da “Ave”.

Nunca nenhuma instituição lutou tanto pela mulher como Igreja, por isso, sobretudo as mulheres deveriam defender a Igreja neste tempo em que tantos erguem-se contra Ela.

Mulheres, está na hora de restaurar aquele antigo valor que nos foi atribuído, e também, por gratidão, já é hora de retribuir tantos favores.


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Todos os artigos disponíveis neste sítio são de livre cópia e difusão deste que sempre sejam citados a fonte e o(s) autor(es).

Para citar este artigo:

AZEVEDO, Fernanda Carminati Zambrotti. Apostolado Veritatis Splendor: A MULHER NA IDADE MÉDIA. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/5920
. Desde 12/08/2009.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Santa Teresinha do Menino Jesus, Espírito Cruzado

Santa Teresinha do Menino Jesus, Espírito Cruzado

"Com que alegria, no tempo das cruzadas, teria partido para combater os hereges"

Fonte: Rev. Catolicismo

Imagem retirada do blog As cruzadas

Santa Teresinha do Menino Jesus, que desejava passar o Céu fazendo o bem na Terra, não tinha uma alma débil, desprovida de personalidade e força de caráter, que fugia do sofrimento e da luta. Se assim o fosse, não teria sido elevada às honras dos altares, nem teria sido apresentada ao mundo católico como "uma nova Joana d'Arc" pelo Papa Pio XI (a 18 de maio de 1925).

É muito oportuno e mesmo necessário, pois, considerarmos este aspecto de sua alma, freqüentemente esquecido ou falseado em imagens e santinhos, onde ela aparece com a fisionomia impregnada por um adocicamento sentimental e romântico, totalmente inexistente em sua forte e marcante personalidade.

Vejamos algumas de suas afirmações que refletem o espírito de cruzado que animava a Santa da chuva de rosas:

"Na minha infância sonhei lutar nos campos de batalha. Quando comecei a aprender a História da França, o relato dos feitos de Joana d'Arc me encantava; sentia em meu coração o desejo e a coragem de imitá-los" (1).

"Adormeci por alguns instantes -- contava ela à Madre Inês -- durante a oração. Sonhei que faltavam soldados para uma guerra contra os prussianos. Vós dissestes: É preciso mandar a Irmã Teresa do Menino Jesus. Respondi que estava de acordo, mas que preferia ir para uma guerra santa. Afinal, parti assim mesmo. Oh! não, eu não temeria ir à guerra. Com que alegria, por exemplo, no tempo das cruzadas, teria partido para combater os hereges. Sim! Eu não temeria levar um tiro, não temeria o fogo!" (2)

"Lançando-me na arena

Não temerei ferro nem fôgo ....

Sorrindo enfrento a metralha ....

Cantando morrerei, no campo de batalha

As armas à mão", bradava ela (3).

"Quando penso que morro numa cama! Como desejaria morrer numa arena!" (4)

"A santidade! É preciso conquistá-la à ponta da espada. .... É preciso combater!" (5)


____________________

Notas:

1) Lettres de Sainte Thérèse de l'Enfant-Jésus, Carta ao Abbé Bellière, Office Central de Lisieux, 1948.

2) Carnet Jaune, 4.8.6 -- in Derniers entretiens, Éditions du Centenaire, Desclée de Brouwer-Éditions du Cerf, Paris, 1971.

3) Mes Armes -- Poésies, Édition du Centénaire, Cerf-Desclée de Brouwer, Paris, 1992 (Carnet jaune, Mère Agnès de Jésus, 4 de agosto).

4) Summarium [do Processo de Beatificação e Canonização], depoimento de Celina, 2753.

5) Correspondance Générale, Éditions du Cerf-Desclée de Brouwer, Paris, 1972, t. I (1877-1890), Carta (­­nº 89) a Celina, de 26 de abril de 1889. E Lettres de Sainte Thérèse de l'Enfant Jésus, Carta a Leônia, de 20 de maio de 1894.

http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?idmat=0389886A-3048-560B-1C1607BEED31F63A&mes=Setembro1997


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Biografia


"Não quero ser Santa pela metade, escolho tudo".



Nasceu em 1873, em Alençon, França. Entrou adolescente para o Mosteiro das Carmelitas de Lisieux, com apenas 15 anos, onde se distinguiu particularmente pela humildade, simplicidade evangélica e confiança em Deus e, estas virtudes ensinou-as às noviças, com seu exemplo e palavras.

Morreu no dia 30 de setembro de 1897, oferecendo sua vida pela salvação das almas, a santificação dos sacerdotes e a expansão da Igreja.
Foi beatificada pelo Papa Pio XI, em 29 de abril de 1923, que fez dela a “estrela de seu pontificado”.

Canonizada por Pio XI, em 17 de maio de 1925. E pelo mesmo Papa proclamada Padroeira das Missões em 14 de dezembro de 1927.
O Papa João Paulo II proclamou-a Doutora da Igreja no dia 19 de outubro de 1997.

Santa Teresinha, aparentemente pequena aos olhos das criaturas, mas que trazia em si uma alma de gigante. Podemos defini-la como a “Pequena Gigante”.




Fonte: Carmelo São José | Prod. © 2005-2010. Todos os direitos reservados.

http://www.carmelosaojose.com.br/santateresinha.php

Há 900 anos, aurora radiosa das Cruzadas

[Janeiro de 1996]


Há 900 anos, aurora radiosa das Cruzadas



Comemorou-se em novembro último, o nono centenário da convocação da primeira Cruzada -- episódio inicial de uma série de eventos históricos cujo ideal foi sublime

Arnóbio Glavam

Naquele mês de novembro de 1095, uma multidão afluía, de diversas partes da Europa, para a cidade de Clermont-Ferrand, na França: centenas de arcebispos e bispos, cerca de quatro mil eclesiásticos e dezenas de milhares de leigos. O Bem-aventurado Papa Urbano II vinha de convocar um Concílio em que se iria decidir, entre outros assuntos, o destino da Terra Santa, de há muito em poder dos infiéis.

Com efeito, os seguidores de Maomé, desde o fim do século IX, tornaram-se senhores do Egito, Síria e Palestina, e os peregrinos, que do mundo inteiro se dirigiam a Jerusalém, assistiam desolados ao triste espetáculo. Os Lugares Santos profanados e o estandarte do Crescente -- substituindo-se à Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo -- flutuando sobre a cúpula da igreja da Ressurreição, transformada em mesquita.

Aproximadamente dois séculos se passaram, no transcorrer dos quais o Ocidente cristão suportou pacientemente tão doloroso estado de coisas. Foi então que hordas de bárbaros tártaros, extremamente belicosos e agressivos, iriam modificar inteiramente tal situação. Entre esses asiáticos destacaram-se os turcos, que tinham dominado a Pérsia e abraçado a religião de Maomé, chegando ao pináculo de seu poderio sob a dinastia dos seljúcidas. Incomparáveis na arte de cavalgar e no manejo das armas, passaram a espalhar o terror por toda a região.

Tão logo ocuparam os Lugares Santos, moveram atroz perseguição aos cristãos do Oriente e aos peregrinos, estes últimos sistematicamente interceptados, saqueados e chacinados nos caminhos para Jerusalém. Ao mesmo tempo buscavam conquistar o Império Bizantino, como meio para atirarem-se sobre a Europa ocidental.



Continuamente chegavam ao Trono de São Pedro, então ocupado por São Gregório VII, insistentes pedidos de intervenção militar no Oriente.

Condoído pela tragédia que se abatera sobre a Cristandade, o grande pontífice planejou ir, ele próprio, à frente de um exército cristão defender a liberdade dos peregrinos de venerar os Santos Lugares e tolher o passo à ofensiva islâmica sobre o Ocidente. Entretanto, dificuldades políticas com o Sacro Império Romano Alemão o impediram de realizar tão acalentado intento.

Coube ao Bem-aventurado Urbano II, sucessor de São Gregório VII e igualmente vinculado à reforma empreendida pela abadia de Cluny, a glória da convocação da Cruzada.


Nascimento de um grande ideal


O Concílio de Clermont-Ferrand, aberto em 17 de novembro de 1095, ocupou-se antes de tudo em aprimorar a disciplina eclesiástica e combater os maus costumes, bem como as guerras entre particulares, então muito freqüentes.

Para esse efeito o Concílio renovou a chamada trégua de Deus, que punha vigorosos limites às lutas privadas como também às guerras entre famílias. Com isso Urbano II preparava aqueles corações ainda rudes para neles fazer raiar a mais bela página da história da Cristandade: o ideal de cruzada. Isso teve lugar durante a décima sessão do Concílio na grande praça de Clermont, onde incontável multidão se reunia para ouvir a voz inspirada do Vigário de Cristo. Urbano II subiu a uma alta tribuna, e com voz potente conclamou os cristãos, especialmente os franceses, a abraçarem a causa da libertação dos lugares santos.

"Ai de vós, meus filhos e meus irmãos -- disse o Papa -- que vivemos nestes dias de calamidades! Viemos então a este século reprovado pelo Céu, para ver a desolação da cidade santa e para vivermos em paz, quando ela está entregue nas mãos de seus inimigos?"

±s palavras de fogo do intrépido Pontífice, a multidão, cheia de zelo e entusiasmo pela glória de Deus, bradava em uníssono: Deus vult, ou seja, Deus o quer.

"Que as palavras `Deus o quer' sejam o vosso brado de guerra" --
respondeu Urbano II.
Em seguida, de joelhos em terra, a multidão recebia -- para aquela situação extraordinária -- a absolvição geral, e algumas notáveis personalidades ali presentes fizeram prontamente o juramento de lutar na Terra Santa. Como símbolo de tal juramento, uma cruz vermelha de tecido era afixada sobre as próprias roupas. Daí terem tomado o nome de cruzados.

O primeiro a receber a cruz, o fez das mãos de Urbano II, com pedaços de suas próprias vestes episcopais: foi o Bispo de Puy, Ademar de Monteuil, que dirigiu a primeira Cruzada, em nome do Papa, estando este impossibilitado de fazê-lo pessoalmente, como era anseio geral de toda a Cristandade.

Nove Cruzadas se sucederam entre os séculos XI e XIII, das quais a primeira é a mais importante. Nela sobressai a figura de Godofredo de Bouillon, que logrou estabelecer no Oriente, ainda que efemeramente, o Reino Latino de Jerusalém, o principado de Antioquia e os condados de Edessa e de Trípoli.

Aclamado rei de Jerusalém, Godofredo de Bouillon recusou a coroa que lhe era oferecida, ponderando que não podia cingir com ouro sua fronte na mesma cidade onde Nosso Senhor Jesus Cristo havia sido coroado de espinhos.

À frente da sétima e oitava Cruzadas brilhou a personalidade impar de santidade, prudência, coragem e simplicidade de São Luís IX, rei de França, que marcou a História como modelo de rei, de cruzado e de Santo.

Cruzada: expressão de sublime heroísmo religioso

O gesto heróico do Papa Urbano II, convocando a Cruzada, a 27 de novembro de 1095, foi um dos mais importantes, senão o mais importante de seu pontificado. Por certo terá sido um fator determinante na elevação desse grande Pontífice à honra dos altares, quando no ano de 1881 o Papa Leão XIII o proclamou Bem-aventurado.

A primeira Cruzada teve as assinaladíssimas conseqüências que a historiografia insuspeita não tem deixado de exaltar. Mas ao mesmo tempo ela abriu a gloriosa era das Cruzadas, nas quais a Santa Igreja e a Cristandade lutaram em atitude corajosa e nobremente defensiva contra os inimigos da Fé, em três áreas distintas: contra os mouros sarracenos e outros seguidores de Maomé; contra hordas de bárbaros pagãos que ultrapassavam o Reno e o Danúbio; e contra os hereges albigenses, que ameaçavam internamente a Cristandade.

Nessas santas lutas em defesa da Fé, os cruzados, filhos característicos da Igreja militante, salvaram-na de perigos sem conta, e defenderam as terras da Europa ocidental contra muçulmanos, pagãos e hereges. Com o que ficaram defendidas as liberdades indispensáveis para que as nações pacíficas da Europa cristã e ocidental pudessem constituir as maravilhas de fé, arte e cultura que, até hoje, todos os povos da Terra afluem incessantemente para admirar.

A palavra cruzada ficou assim incorporada para todo o sempre ao vocabulário católico, como expressão de sublime heroísmo religioso.

É bem verdade, infelizmente, que as misérias humanas -- presentes até mesmo em excelentes e até santas instituições -- se fizeram notar, e por vezes de modo muito agudo, na história das Cruzadas. Paixões, ambições pessoais, rivalidades mesquinhas, invejas e até traições deixaram indelével cicatriz numa tão louvável instituição nascida sob o influxo da Santa Igreja. Foram tais misérias, com certeza, uma das mais atuantes e decisivas causas dos numerosos reveses e infortúnios sofridos pelas Cruzadas.

Mas se tal é verdade, também o é que, transcorrendo os séculos, aquilo que as Cruzadas tiveram de contingente e humano se eclipsou aos olhos da História para dar lugar à sua verdadeira visualização, isto é, o que elas tiveram de perene e de sobrenatural.

Com efeito, o ideal de cruzado completou o perfil do cavaleiro e marcou a História com um padrão de perfeição cristã que resistiu e vem resistindo a todas as investidas adversárias, a todos os vendavais morais e culturais dos séculos de demolição que se sucederam desde então. Ainda hoje, apesar do estado de vulgaridade e decadência moral em que vão caindo as sociedades modernas, qualificar alguém de um perfeito cruzado é fazer-lhe um dos mais altos e honrosos elogios.

Foi ainda o espírito de Cruzada que, três séculos após São Luís IX, moveu outro Papa, São Pio V, a convocar nova expedição militar, cujo milagroso desfecho se deu em 1571, na célebre baía grega de Lepanto. A armada cristã, sob o comando de Dom João D'Áustria, assistida por celeste proteção, derrotou a frota numericamente muito superior dos turcos otomanos, salvando a Cristandade do domínio muçulmano.

Semente do mesmo ideal das Cruzadas veio germinar em fins do século XVII, por iniciativa de um Papa -- também este elevado às honras dos altares -- o Bem-aventurado Inocêncio XI. Este Sumo Pontífice conclamou o heróico rei da Polônia, João Sobieski, a unir-se às tropas imperiais comandadas pelo Duque Carlos de Lorena, para a defesa de Viena ameaçada pelo Sultão de Constantinopla Maomé IV. Desta forma salvou Viena e o Império, e uma vez mais o Ocidente cristão, da investida islâmica.

Foi justamente em ação de graças por tão memorável vitória que o Bem-aventurado Inocêncio XI instituiu a belíssima festa do Santo Nome de Maria.

Em duzentos anos, nove cruzadas


1095 - O Papa Urbano II convoca os barões da Cristandade para partir em direção a Jerusalém, a fim de libertar o Santo Sepulcro e livrar os cristãos do Oriente, que haviam tombado sob o jugo muçulmano.

1096-1099 - Primeira Cruzada: três anos são utilizados para cercar e tomar Nicéia, Antioquia e, por fim, Jerusalém.

1147-1149 - Segunda Cruzada, a pedido do Papa Eugênio III (motivado pela queda de Edessa) e pregada na França por São Bernardo. Diante de Damasco, a derrota de Luís VII, rei da França, e Conrado III, imperador alemão.

1189-1192 - Terceira Cruzada, empreendida por causa da queda de Jerusalém em poder de Saladino. O rei da França Felipe Augusto, o imperador alemão Frederico Barbaroxa e o rei da Inglaterra Ricardo Coração de Leão tornam-se cruzados. Tomada da ilha de Chipre e de Acre, no litoral da Palestina. Acordo com Saladino, que concede livre acesso aos Lugares Santos. Criação do reino cristão da Pequena Armênia.

1202-1204 - Quarta Cruzada, convocada pelo Papa Inocêncio III. Objetivo inicial: o Egito. Os cruzados terminaram tomando Constantinopla, onde Balduíno de Flandres instala o império latino, de curta duração.

1217-1221 - Cruzada das crianças: milhares de crianças e jovens morrem a caminho de Jerusalém. Quinta Cruzada, sob novo apelo de Inocêncio III: os cruzados tomam e depois perdem Damieta, no Egito.

1229 - Sexta Cruzada: o imperador alemão Frederico II negocia com o sultão do Egito o livre acesso a Jerusalém, Belém e Nazaré.

1248-1254 - Sétima Cruzada - Jerusalém cai em 1244, pela segunda vez, em mãos dos muçulmanos. São Luís IX empreende a conquista do Egito e conquista Damieta, que depois devolve, ao ser derrotado e tornado cativo.

1270 - Oitava Cruzada - São Luís IX morre diante de Túnis, norte da África.

1291 - Nona e última Cruzada - Tenta infrutiferamente levantar o cerco de Acre. Com o abandono das duas últimas fortalezas da Ordem dos Templários na Palestina e ao norte de Beirute, os Estados latinos da Terra Santa são extintos.



Fonte: Revista Catolicismo

Janeiro de 1996

http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?idmat=71C63F4C-3048-560B-1CF0066DDFA47411&mes=Janeiro1996


Scanderbeg: Espada e escudo da Cristandade

Jorge Castriota, Scanderbeg,

Espada e escudo da Cristandade

Fonte: Rev. Catolicismo
Imagens: Blog As Cruzadas




Príncipe da Albânia, cognominado pelo Papa Calixto III de atleta de Cristo, "durante vinte e quatro anos inteiros opôs vitoriosa resistência aos exércitos turcos, com freqüência 10 a 20 vezes mais numerosos que o seu".(1)

José Maria dos Santos


Jorge era o mais novo dos filhos do Príncipe João Castriota, senhor de Ematie, na Albânia, e da Princesa sérvia Voizava, tendo nascido no ano de 1414.

Quando, em 1423, o sultão turco Amurath II invadiu a Albânia, o Príncipe João, para salvar o reino, não podendo pagar a vultosa soma que lhe era exigida como dano de guerra, precisou dar como reféns ao vencedor seus quatro filhos, Estanislau, Reposio, Constantino e Jorge. Dos quatro, dois morreriam envenenados; um terceiro, retornando à Albânia, entraria num mosteiro; e somente o caçula, Jorge, tornar-se-ia um grande guerreiro.

Chegados à Turquia, os três mais velhos foram postos no calabouço, pois não estavam dispostos a renunciar à sua fé. Como Jorge tinha apenas nove anos e era de muito boa presença, foi circuncidado e educado no islamismo. Mas, em segredo, guardou a fé de seus pais.

Tanta era a estima que tinha por ele o sultão, devido às suas inatas qualidades, que fez com que lhe ensinassem o árabe, o turco, o eslavo e o italiano, além do exercício das armas.

Scanderbeg, considerado um novo Alexandre Magno




Aos 18 anos foi nomeado sandiak. Posto à frente de um exército de cinco mil ginetes, passou para a Ásia, onde demonstrou um valor extraordinário. Foi aí que recebeu dos turcos o sobrenome de Iskander-bei (príncipe ou chefe Alexandre, em alusão a Alexandre o Magno), que os albaneses mudaram para Scanderbeg.

"Dele se diz que era de aspecto majestoso, e dotado de uma força fora do comum. [...] Conta-se que, durante um combate, logrou com um só golpe cortar em dois um guerreiro protegido com couraça".(2)

"Todos os contemporâneos o elogiam como um dos mais belos e esforçados caracteres varonis daquele século. [...] Sua afeição aos combates era tão grande, que o dar uma batalha de quando em quando constituía para ele uma necessidade. Nele se juntavam o valor do soldado e o olhar penetrante do general; suas forças corporais apenas podiam esgotar-se com esforços, e a rapidez de seus movimentos militares trazia à memória os de César".(3)


Entretanto, Scanderbeg não se esquecia de seu país e procurava uma ocasião para a ele retornar. Em 1432, com a morte de seu pai, deveria herdar suas possessões. Mas o sultão, em vez de lhe dar o território que lhe competia por herança, quis tê-lo para si. E enquanto mandava um dos seus chefes tomar conta dele, mandou Scanderbeg invadir a Sérvia.

Jorge aproveitou-se do momento imediatamente precedente à batalha para passar para o lado sérvio. Antes, porém, tinha forçado o secretário de Estado do sultão a entregar-lhe uma ordem, dirigida ao comandante de Kruja, na Albânia, para que reconhecesse o portador como seu sucessor no comando daquela praça e lha entregasse.


Líder das tropas albanesas, cruzado contra os otomanos



Depois da batalha, vencida pelos cristãos sérvios, Scanderbeg refugiou-se nas montanhas, com 600 cristãos fugidos das tropas turcas e mais alguns montanheses. Tendo entrado em Kruja, onde recebeu o comando da praça, à noite abriu as portas para seus partidários, que aniquilaram a guarnição turca. Scanderbeg chamou depois todos os seus parentes e albaneses a Kruja, para tomarem parte na libertação de seu país.

A insurreição se alastrou com tal rapidez, que em pouco tempo Scanderbeg havia tomado as principais praças da região.

Convocou então uma reunião em Alessio, em território veneziano, da qual participaram albaneses e venezianos, sendo eleito indiscutível chefe, aclamado por todos.

Posto à frente de sete mil infantes e oito mil cavaleiros, Scanderbeg

enfrentou e derrotou em 1444 um exército turco de 40 mil homens, comandado por Ali Pachá.

Scanderbeg procurou unir-se com a Hungria e a Transilvânia na luta contra os otomanos, e aderiu ao plano de Cruzada proposto pelo Papa Eugênio IV.

No ano de 1448, Scanderbeg derrotou mais uma vez os turcos comandados pelo paxá Mustafá, fazendo-o prisioneiro como a outros de seus oficiais, por cuja liberdade exigiu vultosa soma.

Mas no ano seguinte o próprio sultão Amurath, à frente de um exército de 100 mil homens, invadiu a Albânia, conseguindo apoderar-se das praças de Sfetigrad e Kruja. Entretanto, não conseguindo a submissão de Scanderbeg e atacado por uma enfermidade, retirou-se para Andrianópolis, onde morreu, sendo sucedido por Maomé II.

Capitão General da Cúria na guerra contra os turcos



Amargurou ao herói albanês a defecção de seu sobrinho Hamsa, que se uniu aos implacáveis inimigos da fé. Em 1457, o sobrinho renegado invadiu seu país, acompanhado do general turco Isabeg com numeroso exército, sendo que Scanderbeg tinha para defendê-lo apenas 12 mil homens. Por isso, não enfrentou diretamente o inimigo, mas procurou atraí-lo para lugares isolados. Em 2 de setembro desse ano, Scanderbeg, num combate sangrento, obteve a vitória nos arredores de Tomorniza, surpreendendo o exército turco enquanto este se entregava descuidadamente ao repouso. Mais de 15 mil turcos foram mortos e 1500 feitos prisioneiros, entre eles o renegado Hamsa, a quem Scanderbeg poupou a vida, mas enviou-o a Nápoles para que estivesse preso com segurança.

Em carta de 17 de setembro de 1457, escreveu o Papa ao general albanês: "Amado filho: perseverai do mesmo modo no futuro, em defesa da Fé Católica, pois Deus, por quem pelejais, não abandonará sua causa; Ele vos dará, estou seguro disso, a vós e aos demais cristãos, junto com a maior glória e triunfo, a vitória sobre os malditos turcos e demais infiéis".(4)

O Sumo Pontífice mostrou seu júbilo pela vitória obtida, nomeando Scanderbeg Capitão General da Cúria na guerra contra os turcos.

Conclama os príncipes do Ocidente a uma Cruzada

Depois dessa vitória, o herói albanês escreveu aos príncipes do Ocidente, dizendo-lhes que não tinha condições de continuar sua guerra contra os turcos se não recebesse deles auxílio. Que era chegado o tempo em que esses príncipes despertassem do sono a que até então tinham se entregado, renunciassem às suas discórdias e se coligassem para defender a liberdade do mundo cristão. Somente Nápoles ouviu seu apelo e mandou algumas tropas.

A Albânia resistia havia dezenove anos ao poder dos sultões. Apesar de algumas derrotas e enfraquecido pela defecção de certos aliados seus, Scanderbeg mantinha contínuo assédio às tropas turcas. Maomé II resolveu então acabar de vez com essa resistência, enviando contra ele todos os seus generais. Mas quando três deles foram derrotados, o próprio Maomé pediu a paz em 1461.

Três anos após, o Papa Pio II pregou uma nova Cruzada. Scanderbeg derrotou sucessivamente dois generais dos mais importantes do sultão. Depois, cedendo aos apelos do Papa, ajudou a repor no trono de Nápoles a Fernando, filho de Afonso V, que havia sido destronado por João de Anjou.

Com o apoio do Papa, vence o cerco de Kruja

Na primavera de 1466, um exército turco - composto, segundo uns, de 200 mil homens; segundo outros, de 300 mil - invadiu a Albânia, comandado pelo próprio Maomé II. Pouco depois, circulou pela Europa a notícia de uma derrota de Scanderbeg, devido à traição e abandono de muitos cristãos. O pânico apoderou-se sobretudo dos italianos, tanto mais que a notícia vinha acompanhada de outra, a de que um exército turco já ameaçava a Hungria.

Felizmente a notícia da derrota do herói albanês era falsa. Não podendo enfrentar exército tão numeroso, entregara-se à tática de guerrilha, que tantas vezes lhe tinha sido eficaz. Estabeleceu uma forte posição nos bosques de Tumenistos, e desde lá fatigava o exército turco por meio de surpresas, falsos alarmes e fugas simuladas. A tática foi empregada por tanto tempo, que foi desgastando o exército infiel, acostumado a travar uma guerra regular. Cansado, Maomé retirou-se a Constantinopla para passar o inverno, deixando o general Balaban à frente de 80 mil homens fazendo o cerco de Kruja.

Como Scanderbeg, com seus poucos homens, não podia levantar o cerco, dirigiu-se à Itália em busca de socorro, armas e dinheiro. O Papa e os cardeais o receberam entusiasticamente em Roma, e "com muitos presentes e uma considerável soma de dinheiro regressou Scanderbeg aos seus, alegre e animoso", escreve seu primeiro biógrafo Bartelius.(5)

De volta à Albânia, Scanderbeg derrotou os turcos em abril de 1467, fazendo prisioneiro um irmão de Balaban. Pouco depois alcançou outra vitória, ocasionando a morte do próprio Balaban. Com isso as tropas turcas fugiram, e levantou-se o cerco de Kruja.

Grandeza de alma, lealdade e fé sincera

Mas o heróico guerreiro estava no fim. "Vinte e quatro anos de luta contínua esgotaram aquela natureza de ferro. E, havendo sido atacado pelas febres, morreu em Alessio aos cinqüenta e três anos, terminando assim a epopéia albanesa [...]. À grandeza de alma, à lealdade, a uma fé sincera, juntava ele uma inteligência extraordinária, uma penetração segura e uma sagacidade pouco comum [...]. Caritativo e humano, não parecia o mesmo homem na guerra; pois, fogoso, violento, às vezes impiedoso, chegava a assustar os mais valentes: até esse ponto o exaltavam seu ódio pelos turcos e seu amor à independência [da Albânia]".(6)

À notícia de sua morte, seu mais feroz inimigo, o sultão Maomé II, exclamou: "Por fim, me pertencem a Europa e a Ásia. Ai da Cristandade, que acaba de perder sua espada e seu escudo!".(7)


Mas Nossa Senhora tinha outros desígnios sobre a Cristandade. Após as infidelidades do povo albanês e da morte de Scanderbeg, a imagem albanesa de Nossa Senhora do Bom Conselho transferiu-se milagrosamente, pelos ares, para Genazzano, na Itália, acompanhada por dois devotos que atravessaram a pé o Mar Adriático. Mas essa é já uma outra história, que os leitores poderão conhecer lendo nossa edição de abril de 1986.



E-mail do autor: RevCatolicismo@uol.com.br

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Notas:

(
1) Ludovico Pastor, Historia de los Papas, Gustavo Gili, Barcelona - Herrero Hermanos, México, 1910, vol. II, p. 422.

(2) www.masterclass. Spunti tratti da un'articolo di A. Raspagni sulla Rivista "Militaria", nº 11, anno 2.

(3) V. Fallmerayer, Albanes. Clement 5. 7. Apud Pastor, op. cit. vol. II, p. 423.

(4) L. Pastor, op. cit., vol. II, p. 427.

(5) Cfr. L. Pastor, vol. IV, p. 82.

(6) Diccionario Enciclopedico Hispano-Americano, Barcelona, Montaner y Simón, Editores, 1896, tomo XVIII, p. 819.

(7) L. Pastor, op. cit., vol. IV, p. 84.

(*) Obra também consultada: Dictionnaire de la Conversation et de la Lecture, par une société de savants et de gens de Lettres, Paris, Librairie de Firmin Didot Frères, Fils et Cie., 1868, tomo XIII, verbete Scanderbeg.

[ http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?idmat=A29A6CB0-D0B7-B67F-B15AE3122126B87E&mes=Abril2004 ]