sexta-feira, 22 de abril de 2011

Os Templários e a Caça

Uma outra prova de grande realismo e equilíbrio foi dada na redação das disposições que disciplinavam a prática da caça e do torneio, atividade que a cavalaria laica considerava como distração favorita.

Diz-se comumente que aos Templários tais atividades eram radicalmente proibidas, mas isso não é correto:

impor a um cavaleiro a renúncia total e definitiva ao que mais havia de precioso e divertido era um contra-senso em relação a sua condição, o que significaria arriscar ter um grande número de violações e, de qualquer maneira, criar maiores dificuldades de adaptação para os noviços.

Os idealizadores da regra, com toda a probabilidade São Bernardo e os padres conciliares, encontraram uma justa medida de comprometimento que limitava muito a possibilidade de exercitar esses "vícios" da aristocracia militar, restringindo-as ao uso em alguns casos julgados lícitos.

A regra proibia explicitamente a prática da falcoaria, dando a esta o status de "diversão mundana", e a condição de decoro, modéstia e seriedade que os Templários deviam ter eram incompatíveis com a atitude ruidosa e violentamente lúdica que acompanhava as batidas de caça:

Condenamos de comum acordo o uso da caça aos

pássaros com outros pássaros: de fato, parecidos a outros

hábitos profanos, são inconvenientes para a condição

monástica. Que os frades escutem bem os ensinamentos

religiosos, participem às orações, e a cada dia confessem a

Deus, com lágrimas nos olhos, os seus pecados. Por esse

motivo, nenhum Templário professo deverá juntar-se com os

laicos que praticam a caça com o falcão ou outros pássaros de

rapina. E dever de todo monge comportar-se com decência e

modéstia, sem dar-se às risadas, falando pouco e somente

para dizer coisas oportunas e com voz moderada. Proibimos a

todo frade de reunir-se nos bosques para caçar com o

estilingue, nem de juntar-se com aqueles que o fazem, a

menos que seja para protegê-los de ataque de qualquer

sarraceno: e em todos os casos, que o Templário não ouse

gritar aos incitamentos ou fazer versos de caça com o cão, nem

encorajar o cavalo à corrida desenfreada para perseguir

qualquer animal.

Mais que proibir a caça, a regra propunha um modelo reduzido de participação nas batidas que impedia ao Templário de abandonar-se às intemperanças na voz e nos gestos típicos dessas ocasiões, profundamente em contraste com o teor da dignidade monástica. A condição obrigatória para que o Templário pudesse acompanhar os laicos durante as batidas, isto é, a vontade de protegê-los de ataques de sarracenos, não devia ser menor em um contexto como o da Terra Santa sempre ameaçada pela agressão dos islâmicos.

Esse inocente pretexto podia ser utilizado sempre, e por qualquer um, sem risco de ser desmentido, e no mais, assegurava aos confrades apaixonados pela caça a possibilidade de realizar, ainda que por debaixo dos panos, as apreciadíssimas batidas.

Os Templários e o Pergaminho de Chinon Encontrado nos Arquivos Secretos do Vaticano

Barbara Frale

Capítulo III: O Código de Honra dos

Templários

3. Equilíbrio harmônico de espírito e corpo

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Templários: Uma das forças mais temíveis em Portugal e na Espanha

O rei Afonso de Aragão, "o Batalhador", apesar de todas as suas proezas como martelo dos

mouros, revelou-se incapaz de gerar filhos. Seu casamento com Urraca de

Castela foi dissolvido em 1114. Sem herdeiros, e possivelmente com a expectativa de prevenir

uma disputa pelo seu reino que levasse a dissensões após a sua morte,

redigiu um testamento, em outubro de 1131, deixando seu reino para os Cônegos do Santo

Sepulcro em Jerusalém e para as duas ordens militares, os hospitalários e

os templários.

"A estes três concedo todo o meu reino (...) também a autoridade que tenho em

todas as terras de meu reino, tanto sobre os clérigos como sobre os

leigos, os bispos, os abades, os cônegos, os monges, os nobres, os cavaleiros, os burgueses, os

camponeses e os mercadores, os homens e as mulheres, os pequenos

e os grandes,'os ricos e os pobres, bem como os judeus e os sarracenos, com leis como as que meu

pai e eu temos tido até agora e que devemos ter."

Afonso I de Aragão


Não se sabe o motivo dessa decisão, mas, quando Afonso morreu em 1134, ela foi ignorada e,

a despeito do apoio do papa Inocêncio II, os três beneficiários

foram incapazes de fazê-la cumprir. Todavia, quando dez anos mais tarde se chegou a um acordo

em Gerona com Raimundo Berenguer de Barcelona, os templários foram

compensados com o domínio de meia dúzia de fortalezas, um décimo da receita real, isenção de

vários impostos e um quinto de todas as terras conquistadas aos mouros."'

Assim, não obstante sua relutância inicial, eles foram atraídos para a Reconquista e tornaram-se

uma das forças mais temíveis em Portugal e na Espanha.

O próprio fato de a Ordem do Templo ter sido capaz de assumir esse compromisso militar numa

segunda frente em 1114 demonstra seu êxito no recrutamento de cavaleiros.

Suas razões para alistar-se variavam, mas seria um erro subestimar o zelo religioso. O consenso

entre historiadores de que outrora as cruzadas eram um frágil pretexto

para pilhagem e rapina havia agora mudado em favor da motivação penitencial. "O compromisso

de participar de uma cruzada (...) implicava pesadas despesas e verdadeiros

sacrifícios financeiros, e os ônus sobre as famílias eram ainda mais pesados se vários membros

decidissem partir."



O mesmo acontecia com um cavaleiro que se juntava

aos templários: "esperava-se que os postulantes providenciassem suas próprias roupas e equipamento quando ingressavam na ordem",I" e suas famílias e amigos

muitas vezes arcavam com as despesas.


READ, Piers Paul. Os Templários. Rio de Janeiro: Imago. 2001. p. 119.