O rei Afonso de Aragão, "o Batalhador", apesar de todas as suas proezas como martelo dos
mouros, revelou-se incapaz de gerar filhos. Seu casamento com Urraca de
Castela foi dissolvido em 1114. Sem herdeiros, e possivelmente com a expectativa de prevenir
uma disputa pelo seu reino que levasse a dissensões após a sua morte,
redigiu um testamento, em outubro de 1131, deixando seu reino para os Cônegos do Santo
Sepulcro em Jerusalém e para as duas ordens militares, os hospitalários e
os templários.
"A estes três concedo todo o meu reino (...) também a autoridade que tenho em
todas as terras de meu reino, tanto sobre os clérigos como sobre os
leigos, os bispos, os abades, os cônegos, os monges, os nobres, os cavaleiros, os burgueses, os
camponeses e os mercadores, os homens e as mulheres, os pequenos
e os grandes,'os ricos e os pobres, bem como os judeus e os sarracenos, com leis como as que meu
pai e eu temos tido até agora e que devemos ter."
Não se sabe o motivo dessa decisão, mas, quando Afonso morreu em 1134, ela foi ignorada e,
a despeito do apoio do papa Inocêncio II, os três beneficiários
foram incapazes de fazê-la cumprir. Todavia, quando dez anos mais tarde se chegou a um acordo
em Gerona com Raimundo Berenguer de Barcelona, os templários foram
compensados com o domínio de meia dúzia de fortalezas, um décimo da receita real, isenção de
vários impostos e um quinto de todas as terras conquistadas aos mouros."'
Assim, não obstante sua relutância inicial, eles foram atraídos para a Reconquista e tornaram-se
uma das forças mais temíveis em Portugal e na Espanha.
O próprio fato de a Ordem do Templo ter sido capaz de assumir esse compromisso militar numa
segunda frente em 1114 demonstra seu êxito no recrutamento de cavaleiros.
Suas razões para alistar-se variavam, mas seria um erro subestimar o zelo religioso. O consenso
entre historiadores de que outrora as cruzadas eram um frágil pretexto
para pilhagem e rapina havia agora mudado em favor da motivação penitencial. "O compromisso
de participar de uma cruzada (...) implicava pesadas despesas e verdadeiros
sacrifícios financeiros, e os ônus sobre as famílias eram ainda mais pesados se vários membros
decidissem partir."
READ, Piers Paul. Os Templários. Rio de Janeiro: Imago. 2001. p. 119.